segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Cabocla reluzenta

é na clareira da noite suburbana que tu vens, risonha

mudando meu foco

agora, em sua imagem colorida, no seu espectro do visível 

(teu corpo de dengo composto por distintas 

bandas de ondas eletromagnéticas com próprios comprimentos e frequências. eu amo sua reflectância. a sua assinatura espectral...)

pelas madrugadas dos meus olhos abertos

nos feixes luminosos dos postes elétricos 

contrariando o espaço organizado e suas matrizes consolidadas de redes de circulação de bens e serviços. 

mas a logística é dinâmica.

assim como o que sinto 

quando te protejo

quando te projeto

ou quando me toca e me prospecta

com seus planetas orbitando minha atenção

e me acolhe.

me encoraja. com sua fala de navalha. sua língua que corta e salga tudo aquilo que é tirano.

me improvisa

e me risca

me ensina a ser um anjo

diante do sagrado dos nossos atos e passado-futuro cotidiano

te quiero por naturaleza, sinto fotorrespirando.


sábado, 8 de abril de 2023

Muito

Indivíduo na penumbra, no crepúsculo vespertino do poente, na Depressão Sertaneja-São Francisco, do outro lado do karma.

Meu passado sem radiação incidente. Magma granítico, félsico, ácido, viscoso, + explosivo quando extravasa em lava, em produtos piroclásticos.


domingo, 5 de fevereiro de 2023

"no dizer"

fósco,  beiç',  fota,  mota,  rádia,  basa,  cruzêr',  rédea,  rudía,  ataia,  acua,  panha,  ponha,  disincosta,  réda (redô pra lá),  lága,  tria,  "aqui lá em casa",  trupelo,  Creindeuspai!,  Armaria!,  Maria valêmo!,  cê tá doid',  minha péda,  tôpa,  madêra,  parente,  primo,  péda 90,  pédinha,  "igual duas de dez",  amansar,  mulecê, embolado,  muchilado,  ressabiado,  sistemar [sistemado],  raça ruim,  tomar um gole,  trabaiá,  arrumar,  invenção,  "pôr minhoca na cabeça dos outros",  ariar vasía,  assirtir,  chumbar,
 
couro,  pernil,  "galinha botadêra",  "galo índio",  parêa de boi,  carrál',  égua parida,  poudo,  bizêrr',  leitão,  leitoa,  barrão,  bicho-de-porco,  roça,  ingêin (engenho),  carro,  carroção,  fuêro,  muê,  "ôa, psiu!",  manga (pasto),  cana,  lá no matador,  irriba,  pé-de-pau,  pé-de-piqui,  mangaba,  umbu,  araçá,  murici,  cagaita,  gabiroba,  coquin,  pitomba,  capim,  canga,  arado,  calorão,  abafado,  isfriô,  vai chover,  lubrinar,  "rai inchê o ri",  prantar...,  rôm',  minha,  passa!,  rumbora,  graças a Deus!,  Deus é mais,  "de primeiro",  "de jeito maneira!",  derradeiro,

cabôco,  pinhão,  maletoso,  véaco!,  fica veaco!,  ôi grande,  tulemado,  beão,  paiaç,  "no barranco do ôi",  "na boca do estambo",  um punhado,  uma pancada,  restôi,  évai,  évem,  éia,  évinha,  na maciota,  os cigano,  inhantes,  pelejân',  piseiro,  "cê quer ver, cê escuta",  leguedê,  lumbriga,  pôss (parte funda do rio),  ri (rio),  mina (nascente d'água),  moss,  valeta,  lameado,  lamarão,  arião,  capão,  cascai,  lombei,  lombisquei,  ruéla,  embala,  "foi pa péda",  "vai pá péda!", bonzão,  cortar na taca,  malineza,  chegou ficar fofo,  oreiar,  ferventar,  rufino,  invocado,  invocadin...,  gumitar,  ter bala na gúia,  gude,  jante,  unsanzôto,  sandaia,  trevessar,  cuié,  cuêi (coelho),  muié,  ôm', 

priá,  cadorna,  siriema,  viado,  jacu,  melete,  tatu,  patrona,  polenta,  picado,  mingau,  tropeiro,  fundura,  frang' d'água,  brejo,  vereda,  pirambeira,  chapada,  morrão,  rulengo,  tizil,  sabiá,  canarin,  cardial,  anú,  pardal,  arapuca,  irtilingo,  badoque,  Juão,  Zé,  Bartião,  Serapião,  peão boiadeiro,  Sumpaulo,  Barretos,  pular rodeio,  "juntar uma pila",  pusento,  danado,  sucuruiu,  pau d'arco,  mato,  carrasco,  cumpade,  cumade,  madinha,  padim,  bença,  aôba!,  bonoit, vai com Deus.

sábado, 16 de julho de 2022

apocalypto

aula de filosofia numa fria manhã junina. eu me sinto infectado pelo medo, pelas patologias transmissíveis das inseguranças. preciso de uma dose de reforço y fazer exames analíticos do corpo... quero saber o quê e se me aflige. me consola a possibilidade da morte, o exercício de separação e distanciamento do meu physis. o foco da investigação é meu sujeito, minha subjetividade. ganho espaços geográficos produzidos pelo meu trabalho. não sou empírico. tampouco teórico. sou caos, vácuo e vício, numa contradição própria e inata. de onde provém minhas ideias? ocidentais, resultados de processos sociais atrelados ao meu Eu-Terra... então apenas brinco de escrever azul o céu das tempestades que me soterram. 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

inescrutável

línguas estrangeiras se assemelham à codificação aparente dos meus receios. apenas tintas ilegais, passadas despercebidas na alfândega brasileira, pigmentam os teus almejos. culpa minha os seus bloqueios? etiologia inarredável da testa, dos testes, que impedem festas, me julgando feio, impostor y inapto. Erro árduo. Difícil de engolir feito arame farpado: os portais para outras dimensões são fartos e desejo atravessá-los. não quebro a criptografia. minhas linhas novamente fracassam. mas exalam, espalhando no ar o instinto primitivo de sobrevivência. continuo a respirar, de bruços, pelado, atacado por ácaros. 
idealizo irrevogável o acesso às árvores proibidas dos bancos de dados da vida 
y seu além regozijado: doce, puro e bárbaro.

axioma

a realidade é uma mãe alcoólica carregando no colo 

o filho pequeno

pelos subúrbios da cidade morta.

assado, com fome, caindo, doente

na lógica capital do ocidente

caçador acuando o bicho

que contêm inocência e inteligência no tapa! na fala errada, na influência obrigada. Na fumaça do cigarro contrabandeado soprada na cara

passiva criança assassinada, fantasma obrigado a seguir rente, 

riste, alma penada e carente

barrada pelos fatais vícios 

exploratórios e antidemocratas.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Madrinha contou

Sobre os ônibus clandestinos 

do Retiro à São Paulo:

Armaria, nunca vi tanta gente feia reunida.


Ladraram e trucaram, respectivamente:

- Mãe com mê de merda!

- E pai com pê de paiaço!

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

sua selva voz savana

é voz de caçador

feita pra ser só sussurrada

pra noite adentro perder, tão esguia y rápida

afora // espindurado nos galhos

cê coberto de barro, armado, armadilha divina
+ quentão ingerido no tempo frio pra espreitar a arapuca encruzilhada, o jequi submergido na garrancheira do olho d'água

são seus olhos

puxados // rasgados de flechas dos lados
q são brechas achadas pelo diabo
para todo dia flutuar na terra
andar brejo arriba
sob o céu no chão de vaga-lumes:

estrelas irrisórias dos meus esquecimentos
flores tóxicas de espirradeira
incapturáveis: diante da minha máquina fotográfica pouco potente + quebrada de queda

tão logo indescritíveis aos ausentes
tão baixos nas veredas

bioluminescentes
abstrusas de serapilheira cintilante

cravuda
guerreira
indígena

que concorda ser importante
compartilhar o estilo ninja
espistemológica, sistemática
a doçura das geraizeiras culturas.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

no princípio era o verbo

sua mãe conhecia Queen

eu conhecia Nelson Ned, Evaldo Braga, Paulo Sérgio...

aí ela foi gostando

achou que eu era bestão

debaixo do pé-de-laranja

"quem é Bee Gees?" 

"Sorria, meu bem, sorria..." (o único negro)

domingo, 18 de julho de 2021

futuro

eu fiquei tôd' sem graça...

cê parada, na janela, 

cê me acena,

eu passân', eu bambeio, cê me óiân'

eu sorrio, cê sorri, 

<ai, meu sonho!>

cê morena, cabôca,

eu voltân' do ri

eu lavei minha cara 

lá nas águas  do Cedro

eu pulei capim, cortante

vên' as péda do presente

alembrân'... de margens passadas 

correntes, areiantes

...y luego te vi, da estrada

cê parada dênd'suacasa

enquanto o rio carece de análises ambientais

e praxis, de toda a comunidade, região.

e justiça e chuva.

...rimos alto,

trem bonito

seu corpo alumiado

clorofilas excitadas

vermelhas, de bronze

tá escrito!

{literalemente}

pero ahora

eu fique tôd' sem graça 

y solo seguí.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Ensurdecedores

não barulhos vibrando, ao pé de minhas orelhas, atrás das cartilagens, afetando o equilíbrio, nas veias + vertigem + ondas refratadas, mixadas, era da máquina

no momento em que eu cago, não me importo
mini-sônico, parabólico, pernas bailam,

(fios partem embora, largam campos abertos, desmatados,
no futuro a possibilidade + esperança,
trabalhados nossos caminhos, tortos, retilíneos, benevolência e paz | rebordosa e cantos prânticos)

{...} eu acho que posso morrer...
esfinge descrita, shinigami
Maurício, nome simples, Rua Belarmino,
vencer a fantasia do destino
vestindo pontualidade, clássico,
cheirando à ervas que livram do mal
que livram de ideias que tive com Ygor:
navegar
num veleiro
evacuar
deriva continental;
desfavor
fome infinita, 
gartanta de espinho, 
coroa infame de meus quereres, 
de enxame de abelha-orópa, longe... 
da terra... achar terra... terra à vista!... alucina...
tubarão... tempestade... chego em Cuba?... no Pelô... 
Boa Vista... tubarão-tigre...
qualquer terra! > levar uma arma e uma {unidade de} bala
tubarão-cabeça-chata
cessar sofrimento, se preciso for.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

malineza

manejo menino malino o seu mel [de babosa, Aloe vera, monange]

exorcista de noite, raspada no véu

turquesa bem-te-vinda (Pitangus sulphuratus) e cinemática

+ pitanga temporã (Eugenia uniflora)

ai, se a <tomada/luz/câmera/ação> não me vomitar pra fora da órbita...

Sergipana morena manhosa, egípcia, te extraño.

me arrepiento.

Vadio de noite de cara de volta

de rock + banquin em jardim,

jasmim-manga,

arômata

que vaza

quando eu gozo

+ vejo a filmes de paletas escuras

+ vejo olhares felinos cor de amendoim (hypogaea)

similarmente embolados na casca

madrugueiros com TVs ressonantes

sotacando cada troféu

conquistado por meus deseperos

à Biblioteca Estadual + avenida Beira-mar, paralelos

eflúvios, tecnográfico/postal memorável

<remotos/esguios>, tanto quanto absortos 

(Abelmoschus esculentus)

solução de quiabo 

de choro + jaula

que encabula e enclausura

 teu tremido gostoso.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

"Ah, é góra..."

Agora pegou, sab'.

A garrafa de azeite

esculpida no mármore da cozinha

das gasrrafas de vinho vazias no chão:

<ná'dalembrar>


na janela, som e luz direto, eu escrevendo isso

com caneta que cacei no escuro com o celular

por que não usei o celular

ao invés de papel rasgado ?

no canto de cardeno Tilibra

{ que já virou Trevo }

meus anjos de Deus me protejam

do diabo

do demônio, 

ô diaxo, desconjuro!

eu me acho, 

sou humano, 

eu me rásto, 

me dou um tái 

e me vejo sangrar

e chupo na hora, instinto, memória?, 

de una Raza Antigua

uma roça, rebanho 

que foi espaiád'.

terça-feira, 4 de maio de 2021

Goethita

Rosa amarela de meus sonhos terríferos

seara selvagem de flor & vestido

me revestindo 

de sua potência

da alegria de escalar conceitos agronômicos

das criações & dos cultivos

mágicas blandícias que rodopiam tropicais

em samba y cumbia, reino Animalia

em bola que corre em campos astrais.

terça-feira, 23 de março de 2021

"Hoje não"

Hj eu não vou dormir antes de registrar, 

por pressão, 

alguns vírus que atravessam meu sistema neurológico

todos os cabelos encravados que eu não consigo tirar y só pioro a situação

todos os sorrisos sarcásticos que, navalhas obsidianas, de rochas vulcânicas, cortam minhas pontas louras e às jogam ao mar.


Sabe, eu sou obrigado a registrar

que a minha família é isenta

que eu queria ter terminado a graduação

que eu queria um gol quadrado

branco ou azul claro

que combinasse com minha camisa social favorita

que preenchesse o vão de algumas linhas

y me levasse às quedas escondidas do meu Norte do Norte de Minas.


Meramente obrigado!

y apresento-lhes o paradoxo da ingratidão 

pois nas madrugadas Insectas eu sou passarinho

pois nos dias endotérmicos eu me flagro Reptilia.


Y se Deus me desse filhas

y o acolhimento de um povo indígena 

y a oportunidade de uma carreira científica

y uma pequena vazão da ideação suicida 

eu seria, sim, perpétua pipa

perene plantação de laranja, duradouro toca-fita

sem dor de dente, cabeça ou ouvido

sem mal-me-quero e dor-de-vida

cirurgia botânica divina:

eu seria sempre-viva.

Cabelo cor-de-fogo

Eu fiquei apaixonado
No seu cabelo vermelho alaranjado
Cor-de-fogo
Que cê fica brava quando o tom dá errado
Pela sua boca
De sorriso roxo
Pelo olhar oceânico
Em placa tectônica submarítima
Y vontade de virar animal
Porque bom mesmo é morrer bicho
Irracional
Porque bom mesmo é morrer planta
Fotossintetizando
Convertendo a luz
Em beira d'água preservada
Reprogramando
Em binário
Fractais de estrelas, de quasares
Menina marguerita
Eu tronco, na fila
Cê brasa, seu Filo:
Te quiero,    Sofia.

Final pro sonho do boi preto

A olaria

era bem ali no terreno
de Nivaldo. Ou no de Berto. Futuramente, compramos na mão de Berto. Depois meu pai trocou, por tijolos e telhas, com Nivaldo. São todos vizinhos, é um detalhe o ponto exato. O asfalto hoje passa do lado, em cima,
no aterro. 

~ 400 metros daqui de casa
e eu não esqueço de quando era pequeno
e toda noite era
o prazeroso sonho mesmo
n'outros dias, pesadelo
com meu pai no caminhão
des/carregando
(em fração)
quando eu sumia: uns 100 passos, sentido Cedro
e parava numa lagoa, que nascia o boi
me olhando

y eu só era alvo
y eu só era Arte
em contemplação
y eu não me sentia
não gritava, não corria
nada tinha y ele correspondia

e toda noite repetia
e todo hoje eu agradeço

às enchentes que abastecem as várzeas latossólicas,
às madeiras do carrasco, mortais intérpretes das chamas
e às mãos primatas, humanas
que fabricam tijolos
resultando em muralhas mágicas, de mana
decifráveis
escaláveis
memoriais

yo preciso traçar finais
amansar o boi preto que já é calmo
semi-estático
me montar no seu lombo e rodear
vou chamar de Flor-de-plástico
vou levar pra viajar.


A problemática das almas penadas consumidoras de oxigênio e emissoras de gases poluentes

hasta la luna > as ondas acalmarem, enquanto o sol não nos engolir

> y eu aind'andando pelas ruas escuras  de mim

sigo frequentemente pensando 

o que fazer pra fazer pra ganhar dinheiro

+ o que fazer pra esquecer você

{ lembrando das duas coisas, travo

desconto nos cigarros

escondo nos seu muros, ris'os meus olhos calados,

deitando pelas praças

te ouvindo em todos bares

aceso como nunca

não sinto que tudo passa }

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Meritocracia, vinho e pão.

Que vida subalterna ando subdivindo por entre becos escuros, cidadelas y chinelos perdidos. Meus pés embaraçosos mereciam sentir o chão. 

Eu m e r e c i todas as apostas no baralho, minha lanterna azul quebrada y, de mi madre, la mas justa y amorosa humillacion.


Que projeções y dimensionamentos extremamente abstratos de um desfecho pós-ciclo de vida, ando trajando, chapéus. Meus cabelos doirados y minhas olheiras penadas já não minimizam a minha condição
de réu

primário

porque, assim como os arbitrários 
parágrafos
surgem nos meus rabiscos relatos, o meu espaço pessoal é imponente, tendendo à onipotente, y devorou todos os meus favos.

Sou abelha, sem ferrão, pero solitária, antemão, de comprometido pulmão y com passe atrasado.
Voo baixo, bacurau, sonho nada, ex astral, sinto muito, rejeição y que yo fiz tudo errado.

Mereci morrer assim
Enxerido sei que fui
Influenciável-eu sorri
Inflamável, gás-faltei

Y todo fue por mi.

Meus olhos mornos, flitos, yo abro.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Escuta

Ouço, através das paredes, o incômodo de meias respostas

beirando o silêncio luminoso da Lua nova 

ou os passos tortos do meu eu+pobre+álcoolatra.

os cálculos não batem, as vozes trêmulas ressoam tardias, taquicardíacas, medrosas, sem harmonia

as contas não batem... 

eu conto ou você conta? 

eu transpasso a porta 

e meus erros escancaro? depois fujo a serpenteios largos, 

rastejando sobre o chão, mais alto

que minha dignidade 

+ minha força de vontade 

+ compromisso com a verdade?

porque sim, seu receio é nítido

[as suas ondas sonoras suspendem fracasso

suportam fiascos

cortam mais que cacos]

físico-químico

macroscópico

como meu ódio

que ressuscita toda manhã, malhando a cabeça, minha carência 

de ofício, 

+ meus vícios 

em alopáticos + nicotina + sadomasoquismo 

e a maldita inconclusão científica: graduado em papel de vítima, 

mirabolâncias seletivas 

e mudanças de vertentes, fora dos trilhos 

{amarrado no trem > amarrado nos trilhos > no controle da máquina > máquina à diesel} 

me arrependo de tudo, quero voltar a ser menino

pescar peixe no Cedro, estilingar ne passarinho

alertar a futura morte do Cedro e acerca das espécies em declínio

o espaço-tempo é uma ilusão > ilusões engolem corpos

enquanto eu engulo copos de pinga, corote, cerveja e sangue

esbarrando em outro sonho de óbito.

Sabe, acho horrível tudo que eu escrevo, 

repetitivo, carente de enredo, de sinônimos e de motivos, ora é conformismo, ora é sobre medo

nunca é tinta sobre óleo

grafite/carvão, instrumental, clássico, audiovisual, seresta, repente, criações, cultivos {cana, feijão e milho}

não é o Reis cantado aqui, o forró de todo domingo, das festas de Junho do padroeiro

Santo Antônio perdoará a minha audácia, certeza!

fechará as cortinas dessa chapada,

'que um dia eu me Retiro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Hoje tem espetáculo? Não, não, Senhor.

Os caminhos são pouco intemperizados, rochosos, sinuosos e se bifurcam logo > quando olhamos demais para o céu. logística errada: as serpentes peçonhentas espreitam a tua desatenção, os passos lentos e marcados se cansando, mordidos, miseráveis. a ação retórica de acordar todos os dias, ainda livre, ouvindo sorrisos, sentindo cheiro de bolo assando, torna-se abominável. aflito, completamente sem sentido, perdido na mata fechada, carrasco de caatinga com traços de cerrado > fases difíceis e inevitáveis, interessantes ritidomas ásperos. galhos secos me engravatam, meu corpo clama por levitação, por suspensão e asfixia (de nó apertado, de amor recíproco dado). minhas falas são aulas, minhas falas são falsas, o meu falo me mata, a futura sorte me ampara. a lei de drogas me enquadra, a anti-terrorismo me rasga, a dos homens me maltrata e a de Deus me lambe a cara. língua ácida. pH que rasteja, de meus medos se escondendo. em minhas anotações dando sumiço, feiticeira com mana alta, decidido a não ter amigos. minha vida é de sol, sal e estrada. minhas dores infecção, pelo ar; juro não tirar mais a máscara. minhas máscaras me salvam + meu brilho se apaga, e então, paradoxalmente, volto a ser fada. volto a voar pelo nada, a cantar, derrubar inimigos imaginários. não acredito em tantas brigas, gritos e farpas. quase engenheiro, não aceito essa vida. gostaria de projetar a minha, meu universo lúdico mais lúcido que essa prisão. com crianças que correm, pipas que não quebram, modernidades sólidas, com artes que me engolem. eu queria ser engolido pela Arte. não aguento mais ser engolido pelo capitalismo. eu queria ser engolido pelo mar de Aracaju, que é calmo e raso e fica fundo aos poucos. da orla gigante, lembrando de minhas roças, de minha terra marrom seca, nude, abstrata em minha mente. eu sonho com os rios se enchendo novamente. eu sonho com você, que me lê, que talvez me entende. as possibilidades são infinitas, como posições de sono, de corpo, de luta. como religiões, não como comida. por isso sinto fome. sinto fome e sede, por isso queria mais água no Norte de Minas. por isso queria ser compreendido pela minha família. mas sinceramente, agora sou só eu, adulto, largado, vestido, sensato. o vírus matou quem eu era. a pandemia matou todos que eu conhecia. agora somos outros, piores, melhores y no meu caso não importa. eu só queria conseguir olhar para o chão e para o céu ao mesmo tempo, camaleão. me adaptar e não esquecer do êxito ecológico, do fitness, da capacidade de reprodução. um animal moribundo e sem perspectiva se torna energia para outros. eu quero cumprir esse papel. eu queria ser de papel, de celulose, de árvore. ser um pequizeiro ou um urubu, na verdade. mas repito, gostaria de ser feito de arte. arte é passageira, também. eu queria ser mais passageiro, mas tudo que tenho agora é meu corpo doente e meu pensar agoniado, na-boca-dos-outros algemado, vagabundo, preso. falso afim.

Mas pra todos os efeitos sociais, econômicos e ambientais, eu tô ótimo. 

Fungo, finjo, e um dia consigo fugir.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Saruê (Didelphis aurita)

22:00 horas.
Última noite de lua crescente, amanhã estará completamente cheia. Sua luz  me clareia + meu maratá encontrando seu fim, labareda. O café esparramado no cimento, em 3 círculos de 1 metro e 0,5, de diâmetro, abertos, secando.  Da varanda da casa nova eu vejo uma das formações do Espinhaço, serrana, no ponto de corte norte-mineiro > Santo Antônio do Retiro. Meu nariz apontado para a Pedra Grande (dos Tapuias), onde existem artes rupestres seculares, aqui onde meu povo inflou seu sangue, onde a comunicação social + aperfeiçoamento natural + polegar opositor resultou em prosperidade, se hoje, aqui, eu digito.
Galinhas gritam e correm, ex-apoleiradas...
Ligo a luz do poste 
do quintal, corro para a casa velha, onde meu pai assiste telenovela. Faço de arma a lanterna, desviando dos varal, grito 
"É saruê!" 
Se levanta, 
"Desgraçado! De novo!"
Vem ver, vejo uma galinha preta sozinha, lembro de uma assim mas com pintim, dormindo do lado da velha casa, corro pra verificar e ela tá lá, com suas crias, sossegada. 
A preta outra, sozinha, nitidamente atacada, continua louca pelo terreiro. Tranquilo, digo que 
"A que tinha pintinho do lado da casa tá salva."
Entramos no poleiro, feixes luminosos nas árvores. 
Uma contextualização patriarcal: 
"...Porque saruê, quando vê que a luz ligou, trepa na primeira gáinha que vê e vai lá pro ôin. Você ligou o poste, né." 
"...Quando a lanterna bate n'el', el' óia com os oião bem na luz... às vez tá cheio de fióte na bolsa, eles vai saindo e descendo de um em um. E pau." 
{Amoreira, Araticunzeiro, pés-de-andu, Mangueiras, Cajueiro, Umbuzeiro, bananeiras. Procuramos em tudo, pescoço doeu. Nada. Pai reclama...} 
"Essa outra preta também tinha, tinha 2. Ante-ontem tinha 10 mas de lá pra cá foi os 10 embora. Desgraçado. Ontem foi 3. Ontem ela tava assim, aqui perto do pé-de-caju, um só que acompanhou ela, um ficou preso no arame lá nas erva-cidreira e eu tirei e trouxe pra cá. Mas agora acabou." 
- Enquanto não parou de iluminar as copas repletas de galinhas, que dormem, cheias de sorte. 
{Como se eu não lembrasse, das lenhadas, derrubadas com enxada, subindo no pé-de-goiaba, se preciso fosse. Foice, nele aqui embaixo.
E quando era cobra? Mamãe matava de paulada. Papai tem medo de cobra.
Cachorro se escutava a passada. Canídeos safados, comedores de ovos.}
Eu interfiro
"Nós nunca comeu os que mata aqui, né? Só quando os outro faz. Por quê?"
"Dá muito trábái limpar. Eu não sei não. Sua mãe odeia o cheiro." 
- me responde.
"Ó" - procede - "Vamo deitar que daqui 30 minutos ele ataca de novo porque só comeu 2 pinto. Vou nem acender a luz do poste, vou vim só com a lanterna."
"Tá bom, o senhor me grita."
"Viu."
Vou lá pra cima.
E da varanda da casa nova, do lado do café secando, espaiádo, meu chinelo do jeito certo, virado pra riba, babosa, comigo-ninguém-pode, dama-da-noite, de frente pra horta, que antecede a Serra do Espinhaço, às 23:00 horas finalizo este relato. 
Ele permaneceu alumiando  os topos das árvores por uns 20 minutos, andando por toda a roça, enquanto eu escrevia isso.
O saruê atacou as galinhas do outro lado da pista.
Cachorros latem. Malditos canídeos que se fazem de bons moços.

Acordem, vizinhos.

sábado, 2 de maio de 2020

o que é lar, o que é festa?

cê tá com quantos anos, minha fia? 12, né?!
- é
daqui a 3 anos se deus abençoar pra vovô ter um dinheiro, tiver juntado um dinheiro,
vovô vai fazer uma festa bem bonita de aniversário de 15 anos pra você, viu?!
pra você chamar suas amiguinhas, todas
pra você ficar num vestido beeem bonito, viu?!
se deus abençoar e vovô arrumar um emprego...
uma fest, né, que fala?
- rs, é!
pois é, uma festona de 15 anos, pra você ficar parecendo uma princesa, viu?!
- viu...
você merece! você é tão boa, você é uma menina que merece muito
é o meu sonho, o meu maior sonho, poder fazer isso pra você.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Cigarra (Carineta fasciculata)

{canta, cigarra, canta!}
embala minha altivez
animalesca

{vish, é sinal de sol!}
dizia mamãe, em sua própria emoção,
mas quase minh'a mesma.

quando eu mirava alto, nada atônito, depois da sonora convocação,
a copa das Ingazeiras, Amoreiras, Anacardiaceaes e pés-de-jambo,
não percebia o estado de graça, a comunhão do cume que me devorava
sob aprovação régia, beneplácita, a devolução hemiptera do inédito
saborosa nublada competidora ação: as asas de um lado, membranosas,
órgãos reprodutores, picador sugador, gânglios inclinados aos debandos
+ de outro lado > a curiosidade do suposto domínio, em tempo geológico,
inocente em extermínio, silenciador de arma industrial, feito gambiarra
pela brincadeira de barbantes presos às partículas centrífugas,
às tuas fugas
eu, inseticida
vós que voam
sempre aflitas

então

amenizaremos 
com uma possível tentativa de frear 
a ensolação {?}
prefiro a morte
a maternal - patriarcal sorte
confiar cegamente em meu próximo
enfrentar o Cedro cheio apenas com meu corpo.

justifiquemos 
que a evolução orgânica é sutil raque alada de ingas
fruto leve deiscente que se abre, natural > contra a beata sensatez
pois a carne e o choro e o sangue e os insetos e as árvores e os bichos
e o suor e o gozo, matas flamejantes são resultados de variáveis cógnitas
de um consciente coletivo que fere todas as feras julgadas inóspitas
a partir de seu misticismo de fada, de suas cores avantajadas, + seus
falos e casas e carros e vínculos empregatícios e roupas e raças

não esqueçamos
somos programadores
e o código compilará com as mudanças
upgrades-sem-vergonhas, como plantas
daninhas aos seus castelos de finanças
cortadores das linhas, libertem minhas
crianças.

{voa, cigarra, canta!}

quarta-feira, 18 de março de 2020

Enredo

Miunhas rasgam as carnes das minhas caras
em função quadrática dos encaixes calouros
code caixas inversas determinantes de nada
nos olhares feiticeiros dominantes dos corvos
das damas vituperiosas por nuestras atitudes
suas bocas em minhas chamas
minhas chamas em seus pêlos
em seus consentimentos, trivialmente, findos
perdoai os nossos pecados, a nossa vontade
poison palavras escolhidas em'ordem errada
estético + nervoso > à molde patriarcal
desonestidade vã numa cova anaeróbia
assumindo-se, assim, pragmáticovarde.

Mas nem tudo acinza, Phoenix dactylifera
exceções ∃ de solar > colheitas desérticas
não fará necessário o especifismo, alívio!
Mauritia vinifera - A fera autonominada -
produzida automática em beiras de poços
não perenes - que um dia foram -
∉,     conjunto alheio aos filos
dificultada pelo epistemológico genocídio
transfers orgânicas de povos, anti-lépidas
buritis convertidos, fantoches que choram
modernista, anti-paixão, felídeo leal
fortes raízes assoreadas fasciculares,

intrincadas + simples, em verdade.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

carnaval tamareira (Phoenix dactylifera)

infelizmente não cansey de ser máquina movida a álcool, a sujo diesel
esperando a mulher acordar, uma roleta russa de lágrima ou sorriso,
um dispositivo
que bebe até se esgotar, não renovável
que brinca o carnaval mais quente da Serra do Espinhaço
que ri e se engasga no mosh + pula, dança e salva, seiva, que cai
a consciência
+ cobra
a naturalidade
autocobra
+ serpenteia
automotivo
armaria
aflorescido
e ama em latência, e tudo sobra
exagerado, expansivo demais
constrangedor/tangente
constrangido
vivo-sempre
jurando que esse é o texto derradeiro
não gosto de mais nada que escrevo
por causa do tanto meusado de artigo
por causa do impreterível limitado loop infinito +
essa vontade de gritar
por causa do norteiro sol na cabeça que nos faz falar
+ suar as toxinas
> pela falta de aparelho celular e
pela minha necessidade de estudo literário
{sou apenas um palhaço}
e máquina incandescente
neurocoleoptera construída com giz:
meu aparelho celular é de papel + celulose
de tinta, colorpunk, instrumental, de carvão
de consulta que preciso marcar (urgentemente!)
(para parar de esperar! ansioso + aflito)
O Aparelho que bebe

O Andarilho, paiaço, desfocado, performático > olha ao seu redor, porra! não se faça de besta; cê é besta, seu ingênuo - que segundo Cioran é apenas uma das formas da burrice - segura a risada e seus perdões; cê é doido ou quer 1 real??? seu pidão! é o caralho, clown, mergulhe a crown e experimente a densidade, derreta-a e compre drogas, 4.700 substâncias tóxicas, corote + uma paixão...

até não ser mais nada!

que treme, escala richter
que geme, placa tectônica
sísmico, sínico, onda, indeciso,
urbanístico
mais demorado a estar pronto
uma catástrofe, um infortúnio:
o sono além do ponto,
o descontrole, astuto, de novo;
uma quentura, um passivo desacordo:
a preocupação de não ser demagogo,
mirante de encaixe social em prosa e conto;
viajero pela sombra
> a sombra é a verdade
a cinza e a sombra;
> a cinza é o resquício
da maioria dos inflamáveis,
dos materiais incinerados,
[o objetivo das máquinas movidas a álcool]
depois das quartas mediterrâneas de queixo furado
que eu queria ouvir tudo + acho bonito
que é misterioso, feito filha única
mesopotâmica
e quem planta tâmaras não colhe tâmaras
e ninguém colherá prata
plantae de prata não existe
a sociabilidade generalista não existe
enquanto organismo
enquanto cigana selvática
filosofia absurda
exacerbada,
sim
e minhas letras manuscritas à comprova
e por isso, autônomo, encerro aqui
e juro conquanto não mais escrever
+ me alojar apenas em albergues baratos, se este júbilo continuar a ser opção única
se o medo e incômodo crescerem, infecciosa colônia fúngica
ninguém merece essa garrafa térmica
prestes a explodir
ninguém merecia o progresso pautado unicamente sob a era da máquina
que foi inevitável e possui a todos os sapiens
(eu não queria ser sapiens)
mas não sou fragmento de lanterna falsificada
nem mata primária
> só tenho rimas gastas
e repito:
me orgulho e me rasgo em meus gritos ásperos
remato pelas raízes pré-digeridas pela microbiota
mortas
depois das cinzas de quarta.

domingo, 12 de janeiro de 2020

água escura de mata ciliar

fumei no colo de oxum e mergulhei em seu ventre
turvo de muita água luciferina + corrente
pensei em consequências minerais de rochas exóticas
inseridas na curva do leito
para a flora, microfauna e história
vendo a água dobrar ao longe sob a mata fechada para-raios solares
só com os olhos de fora
entendi porque todos os mais velhos viram o cabôquin d'água
e nós não
que quase viramos piabas
do córgo santo
das águas barrosas e areiadas, dos barrancos
que ninguém mais viu, pulou
pela diversidade morfológica
eu não preciso ser ator
minha morte é escura, ferrão de bagre, cascuda
me espera no passado, em águas misteriosas
morada de cobras perigosas
chão movediço coberto de folha e flor.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

consonância

pra roça De à Pé e De Noite
ouve-se além da sincronia obscura
da falta barítona de lua
+ anfíbios contraltos do brejo
(do rio a uns 200 metros)
mesclada com incógnitos insetos
são arcanjos os tenores sinfônicos
é solvente universal o alísio mezzo
s o p r a n o
+ aguda a cláusula que espero
espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas se aglomeram
me assessoram, serenas
beiradas ou imersas, sereias,
o ritual da complacência:
a Luma germinará no fim do trajeto; (e assim foi)
visualizo e transbordo a recente cheia do Cedro
transpassando a várzea pré-alagada
ulteriormente, à porteira da muralha; (de silêncio, prateada)
desobedeço civicamente aos meus egos
seus corais são quase secos.

não obstante, me assistiu a sinfonia,
a colheita será úmida e farta.


domingo, 5 de janeiro de 2020

impudico pranto

pois nenhum resultado encontrado para pecamínio
continuo insistindo no neologismo
de novas espécies identificadas nas profundezas do oceano de minhas vísceras
também menos exploradas que a superfície lunar
perdendo apenas para as vielas
instantaneamente descobertas,
em epifanias
em momento linear
+ o impulso de uma força
- modulares -

a vida subaquática interior também tem pressão alta
(fobia social + taquicardia
lembranças densas, escuras, ignotas)
bêbada pelas madrugadas equatoriais, mas secas,
longíssimas das praias, voando pelas ruas
sempre driblando a polícia e gritando morra!
morra!
Judas Iscariotes!
m...
enxergando no horizonte,
aproximando-se em rota de colisão
com a represa
fatídica:

. onde mora?
. eu? gêmeos, brigado, é linda sua bota
- acabei de escrever, olha
. amei, vai ser música famosa
. eu? palhaço e contador de prosa
. só tô chorando pela fome
. não a minha, a de todas as mulheres e homens, mas eu quero sim uma mordida
- faz aí uma coisa engraçada
. custa uma dose de pinga.

estruturadas
são as falas da ressaca
que aumenta pela lua cheia
deixando mais profunda a possibilidade de superação
(mais misteriosas, todas as que vem e vão)
mais frágeis, suscetíveis ao rompimento, os muros que seguram as chuvas
mais escassa
a artística
+ calculista
inspiração

cansei desse modelo ultrapassado de ambiental conservação
não quero mais ser mata primária
quero ser fragmento de lanterna falsificada
ou então submarina espécie desconhecida
descobrir o meu talento ecológico balanceado  predador
sem olhos e com uma luz na testa que acende e apaga
morrendo depois pela evolutiva escala

Deus, eu rejeito o dom da vida
em qualquer banheiro de boteco
jorrando sem papel higiênico,
com passagens e boletos
usando um balde pra descarga;
o dom afunda, lento, bosta, vivo
mais uma vez eu peco e molho a cara
de outra moça chique de bota marrom escuro rejeito carinho
seu mesmo amor ainda me rasga
até um dia que viro dado oceanográfico
nadando abaixo do solo marinho.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

persistência

o sono inalcançável
que me levita
é fisicamente implacável + desconectado
os sonhos que me assustam vêm montados à cavalo, com flecha e arco
o ar que te supera é a mesma combinação que os nossos organismos estão adaptados
mas insiste em dissipar quase que o tempo todo
eu não aguento mais o seu timbre rouco
e suas lagartas venenosas sorrindo neuroquímicas
eu não suporto tudo que eu queria,
sem precisar me ausentar,
se desmontar por causa do cansaço dos meus braços
que não abraçaram o mundo
não foram objetos da arte dos palhaços
taparam olhos, boca, ouvidos e narinas
e agora me acordam por pouco
antes que eu mergulhe nova-completamente em seu poço
da tua indecisão e dos meus maus bocados
equinócio simulado
confortável e corrosivo
o meu coração jurado.

progresso

sussurros dos estiletes fabricados no fogão à gás + um tubo de caneta + um apontador de lápis,
quebrado, junto com meu lado ruim > ao pé de meu ouvido como ventos esporádicos
de uma região densa, no carona de um caminhão
público, municipal,
sujo, estatal
com orgulho!
de dois lustrosos sorrisos observando pelas janelas fulgurantes do cyberpunk
o pós-modernismo obscuro, a inteligência artificial
se desdobrando culta às árvores de ritidoma áspero
do relativista carrasco
e distópico
onde a luta pela vida é ainda mais incessante, escancarada
- a humanidade cada vez mais ama as máquinas -
a terra desistente absoluta, a crença morta e robótica de um sistema amórfico
pois esse foi o curso historiográfico das páginas
a destruição total da personificação
o selvagismo implícito dos trânsitos caóticos

quando os jovens negros, alvos, caminhavam de tarde pelos matos e de noite pelas rodovias e treinando suas vozes e seus boxings e seus saltos e as suas mortes
desfilando suas ideias em seus tornozelos à mostra de cobras coral
iluminadas nos últimos segundos pelo celta farol
enamoradas, juntas, do lado da moita de capim
memórias distintas despertadas de um mesmo festim
evidenciando a mudança comportamental:

não acredito mais que tudo seja mentira!
pela evolução, guerras
e línguas
pelo conflito continental
que envolve camadas cebológicas, a marcha cega ao progresso e pela perfeição metálica
o aprimoramento de pontes em dimensões drásticas

que matam o minino pescador, banhadô, lavadô, panhadô de areia, animal
o rio cedro parado, escuro e fundo,
- que sempre foi raso e rápido, cortante, apedrejado, amarelo claro -
bombeado o tempo todo, cimentado
secando
que ninguém vê
assim como o Russão e o São Joaquim e o Das Pidrinha e o Mandassaia

> e eu não acredito mais em você
que sempre me manipulou
e eu volto a te amar e me odeio por isso
volto a amar as máquinas líquidas + pseudo laicas
volto a (te) observar, tudo numa luneta árida

que me embriagou e acabou com meus sentidos
me amarrou e matou de fome e sede
cachorro bravo na corda do fundo do terreiro + arteiro, banzeiro
perigando a corda quebrá e só fazer o costumeiro
vançar no menino triste porque não tem mais peixe nem sombra nem aroeira nem ingazeira
nem córgo e nem lito

acabou tudo...

só fica a vontade de ir embora dessa carne
ela não vai
as máquinas potencializam sua ação, distribuição e arbítrio
as megalópoles cinzas de fumaça e claras de tantas placas
leds, vôos, luzes,
bobos, performando:

luzes de cidade da perspectiva mais recente de criação são feixes de longe, de Rio Pardo, por fascínio,
Espinosa, Monte Azul, Mato Verde,
vendo daqui do Retiro
enquanto luzes de cidades dos primeiros cyborgs
com todos os códigos programáticos de realidades e poder
são só anúncios capitalistas de seus próprios existenciais sentidos.

o orgulho sangra e somos só bicho
em 2020 podemos ser

criança imaculada e mentirosa > fruto da construção do mundo novo do imperialismo

eu não acredito mais em você.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

mar de morros

Cada vértebra do Espinhaço que esfria e grita de noite,
ouvida em todo planalto atlântico
perto da Bahia sudoeste,
perto do maior pequizeiro,
ali, acima e sedimentar Minas do Norte
insiste na visão: é (d)o futuro arterial corte
e outros na pele quem veem, de fronte, ao presente:

- Anunciação!
as trombetas que tocarão no estômato aberto celestial
não serão de proibidas bossas, nem de glórias ou perdão,
não decidimos ou não sabemos opinar sobre um copo de cólera
sem censura, martelados por pregos da verdade aos escancarados olhos
forjados à falta de chuva e fogo, com a caligrafia sórdida
de deus pai todo poderoso:

- não nos levaram a sério nos sistemas classificatórios
e de irrigação;
- um estado ciclópico requer ampla variação de gestão
de acordo com a região, o povo, a economia, a biogeografia,
a saúde e a educação;
- o mecanismo adoece quem nunca teve ou perde
as cobertas propriedades, capacidades e direitos das mentiras estruturais;
- é improvável tornar ou ser radical com-quem não vê o risco iminente
de não estar no topo de uma cadeia alimentar, que o mais escório:
por aí vomitam estarmos;
- boa parte do tempo é perdido, diferentemente da matéria envolvida nos processos:
a matéria é transferida, é seletiva sua conservação;
- é deprimente que boa parte de nós participou de uma cena curta, longe e ossuda, com pouca carne, com todo o sangue;
- obviamente: o martírio é a moeda que pagamos.

Não me canso de tomar sol matinal no quintal da gratuidade de pequenas peças de empórios
enquanto havia tempo e eu era sucinto
cometeria,
se fosse como agora,
que aqui em meu pescoço um fantasma sempre lambe
se, e somente se, como em matemática
estaria atomicamente particularizado,
longe;

eu pudesse mudar esse Anúncio,
eu soubesse contar, fazer planos
eu pudesse plantar concreto em terra descompactada
não cometeria!

Não cometi. tão cometa, uma seta flecha à Terra
a terra úmica, preta, muito intemperizada, rica em matéria orgânica junto à decomposição com taxa alta
lágrima refeita,
perfeita utopia ou raiva justa: a ideia

porque eu sequei, seguindo meu embrião de morros rochosos e bastante primários
durante todas as estações
quando os raios solares municiam o capitalismo com todo tipo de equipamento bélico nuclear
fazem de mim "cigana-do-mato"
ou alternanthera tenella na seca
nunca faltando coragem,

pelo suor ser fotorrespiração
resistir, não perder água
faz sentido o não chorar
pelo gado-rio-plantio-lago-mato-afago
devastado
(porque leite derramado é coisa de república mata atlântica)

me fazendo seguir, manuseando
o leme, abrupto
tardio, tropeiro
reagindo astuto
deficiente de semântica
transeunte peregrino do planalto,
dos dentes arreganhados
engolindo sem mastigar a Serra Geral, azul, de sol com sono
sem cansar de assistir as cenas que (bom) "eu já tinha gravado"
no Alto Rio Pardo
pois dessa vez eu juro que não durmo!

- nunca dormimos direito.

Isso é outro ponto
chagas ou quebranto

e para terminar com tudo
isto,
só nos resta esperar a chuva
vento médio meridiano
frio,
depois de um dia quente, de nuvem e a falta de estrelas no céu
o Rio Cedro vai encher e transbordar
indicando a necessidade de brincar com o universo:

- fazer o teto anil tenaz soluçar
por réu ou de rir;
- desestruturar e reorganizar os índices de desenvolvimento humano de todos os territórios.

Trapaceando o meu tato, fingindo não sentir
o cheiro
imensa cria de meu povo, quero nos manter eutróficos,
esverdear esse carrasco,
sempre pintar meu cabelo
trabalhar com a capacidade máxima de absorção
desaguar em todo o trópico
será ainda pré-era-da-máquina
a época próspera de produzir
tem carnaval em fevereiro
continuem, ressuscitem-se!
as rachaduras ainda somem
as injúrias foliares sumirão
façam seu jogo pra mim.

sábado, 14 de dezembro de 2019

criança

crianças não perguntam por acaso
dúvidas não escorrem pelo ralo
respostas sólidas que passíveis de molduras
predestinam todas as mudanças de estado
todas as sinapses, doenças e curas,
que só aprendi fim do ano passado
bem por isso julguei necessário
falar aqui de Deus e das ruas,
que os erros adultos têm mais de um lado,
escrever sobre o meu último aniversário
superando crescente os ciclos da lua
cortando, todos os dias, o hoje do calendário
enfrentando terríveis lutas
chorando antes de dormir
(sempre que a mente se encontra ligada)
extremamente ansioso, cansado,
além,
por precisar provar pra um agressor alcoolizado
por querer ajudar uma guerreira injustiçada
apoiada, te amo!, em infinitos améns
ambos perdidos por serem socializados
repetindo como gritos em cavernas, vales, ecos
seguindo as leis da física: eu também:
fruto de tantos fardos…
de arcano pessoal A Temperança
que viajou e viu o mundo mais de perto,
aprendeu na terapia que não existe O certo
(percebeu, fadado)
que sempre duvidou das religiões
do amor, honestidade e confiança
pelo suor dos pés e mãos, incomodado,
acreditando até hoje em Esperança
sem mais admirar jargões
na peleja, sendo podado,
competindo pela luz do sol
pela absorção de água e nutrientes
inter/intraespecificamente, por espaço
implorando perdão por ser tão tóxico
(quero que saiba que eu fui o errado)
não soube brincar direito
sempre andei sozinho pelos matos
queimando e fumando arbustos e galhos
matando bichos, sofrendo calado,
com ódio do meu corpo, cara e cabelo
“dessa vez eu vou pro inferno…”
“Deus, perdoe os meus pecados!”
“vão dizer que eu sou fresco”
ansioso desde os 5,
em lembranças acompanhado
“acompanhamento” impossível,
capitalizado
e logo as culpas não existem
nem respostas, nem lamentos
todos povos são estruturados!
tudo é questão de foco
(sonhos morrem, sonhos nascem)
tudo é questão de lado
um abraço, um momento
Armaria, enjoado,
com os mesmos questionamentos
não responderam no passado
não me disse o mundo lá fora
sensível, pseudo-solitário,
agradecendo aos meus amigos
(por responder, tentarem, agora)
apenas seguindo as horas,
o sonho da casa própria,
não só ver o próprio umbigo
ser um autônomo bem bancado
dominar todo o meu ar
obter alguma resposta
ter animais, plantas, ser saudável,
sincero, assegurado
vencer os mais exímios inimigos
(a vida também não sabe brincar).
Mas, quem sabe,
um dia eu me reparo.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

faz de novo aquela cena? (2017)

jura ao vento sanidade
me fala sobre suas teorias
das falsas verdades
me conta das suas virtudes
que pelas práticas são plenas
- e
me ajuda com esse título?
Conturbada Serenidade?
cê fica tão bonita atuando
eu adoro seu sotaque
e o porque de tudo isso
- amo nossas mentes prolixas
suas mais ácidas queixas
nossa, gostei de Açucena
ideia regional de arte
(vou até escrever outro poema)
sobre seus assassinos movimentos de gueixa;
- ou
enquanto toca a nossa fita
toca meus lábios com seus olhos
fita minha mão com suas coxas
tape seus medos com nossas penas
malabareia meus passos tortos
- te acompanho em outro mergulho
só peço calma, só de voar me orgulho
como clima que nada amena
seus olhos e suas melenas
meus infinitos papéis dramáticos
verbalizando mudos barulhos
- faz de novo aquela cena?
toma, usa as claves
deixa que faço as maquiagens
respeitável público, tomem coragem
que ela é tsunami de saturno
nunca precisou de aplausos ou chaves
- e (abrupto)
divide o palco comigo?
assume pra mim que gosta de claridade
que nossas diferenças são fáceis
não nos preocupamos com normas
liricamente somos compáteis.

que juntos somos, como achado, os melhores artistas perdidos.

alguns dos poemas por debaixo dos cachinhos (2016)

[virginiana]

cê me mostra, enquanto aqui,
que certas despedidas são incríveis
quando despida, me vê partir
da nuca à lua
dos encantos sóbrios
ao tentador sentir
e que ao invés de bençãos
mordidas no pescoço
que atingem a aura
e deeeescem
        como mantra
tingindo de versos
seu ser-mulher-corpo
em sincronia à venus
marco histórico do dia-a-dia
tenha certeza, antimonotonia
de todas as poesias
favorita é a minha:
nossa doce assimetria.

[é alto daqui]

essa pós-rock madrugada
com perfume pra nada
que sussurra seu nome
e "grita!", me encoraja
"igual a ela ninguém beija"
sutil, ao pé do ouvido
severina que rasteja
serpente mal-amada
depois de tentar, "duvido"
pois se minto tão bem,
que sejas vítima, alvorada
minha mão e essa sacada
esse vento que me corta,
o som de Marçal, Juçara
essa racionalidade falha
e todas as outras rimas
que também estão em falta.

[haicai do sincericídio]

faltam-lhe penas
é a sua pena
não terei pena

[haicai do atraso (ou da desilusão)]

o amor dorme cedo
e os rocks começam
tarde(s) demais.

[haicai da abstinência]

de tantas incertezas
há uma mais plena:
hoje pensei mais em
cigarros, vodka ou Milena?

mata primária

sonho com o retorno impossível para o estado original de conservação
ou qualquer última eufônica atualização
processos moderados de autodomínio

sem fulgor, sem avisos
sem sorrisos, sem abismos

(e se souberem onde ele está, guardem para vocês, como fizeram n'outrora)
maquiando sem usar as mãos
outros quefazeres tem meu metabolismo
trabalho só,
desde a aurora
do pioneirismo

embalar meu couro craniano, fagulhar em ártico
acender alfazema, preparar os cloroplastos

me livrar do doce do mar
das ondas verdes que empurram meu casco
dos ventos que me sopram demasiado desfavorável

- e eu não paro de catalisar -
te vendo em coevolução com meus microrganismos
com potencial hídrico e nutritivo
e uma fauna
fumando camel
chique, de bota, cor nude,
imóvel
aproveitando o estático atrito
poupando energia depois da ação antrópica
fulminante, irresponsável e só (apenas) industrialmente lógica

como eu queria ser mata primária
com povo tradicional
intocada pela colonização
desconhecida das almas dismórficas.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

vende-se essa letra! pra sair rápido! contato inbox ou pelo zap

suas janelas margeadas possuídas
seus cílios tom sincero de armadilha
o vento rua à cima cospe chuva
casal preto parte forte rumo à fuga

astro instinto ilumina, fátuo fogo
nossos poros devolvendo o mal agouro
flora ébria, cê parece grito feliz rouco
afinada explosão afim de tudo

{e eu de longe rio, cê de longe nada vê
cê de perto poço fundo, tristeza desvanescer
ainda escondo, sei, mas
quando chover eu quero entrar
não tô fugindo agora, não 
é paciência, não quero errar}

flor de maracujá-do-mato, vinga!
a natureza tende ao equilíbrio
pro solstício de inverno, lamparina
a gente rabiscando o precipício

e no escuro, rindo (3x)
animais analíticos 

Rezemos

em quando sempre o instinto reina
eram as minhas rezas, - eu revelo -
de olhos fechados e alma aberta
enquanto a cinemática, impulso
e troca de calor se mantinham variadas e/ou retas
bailando com as minhas palavras sacras
- galopam, feito raio de trovão bem alto,
fragmentam + os feixes de luz incerta -
me mostra, briófita, quais são os seus musgos
sentido e direção,
vetores de mesmo módulo,
ora opostos, que algebricamente se anulam
Ave Maria, cheia de graça
e só a senhora mesmo:
bendito o ritual da seletiva devoção
bendito, do vosso ventre, é o fruto
(o que as minhas encantadas pupilas miram)
bendito estes infindos movimentos de paixão
com o mantra do Terço; "mais forte": do Credo
randômico morfológico, neurocirurgião:
por onde os amigos do circo real martineli andam?
improvisada oração, como ajudava a dormir
os monstros a sumirem do teto
quando você diz que é bom me amar
nós sempre entrando pelos portões do céu
sem ter hora de partir
mesmo eu desejando o fim
fôlego cético ainda
crendo em deus pai todo poderoso,
do céu? criador de nada, cultura a mim
mentalizo uma Salve Mãe Rainha
enquanto os fluidos seguem sua mecânica
a gravidade é deliciada em nossa cama
o córtex, o metabolismo,
epidermes suadas, ao dente, ardentes
Seja feita a vossa vontade
carangueijeira do caos à lama
como era no princípio
agora e sempre, sério
sendo aeróbio ativo
raiz de manguezal com fototropismo positivo
esperando a sua Instituição da Eucaristia
para me batizar no Rio Jordão
nos banhar em cada mistério
provar cada comida típica
nos notar espécimes vivos
eukarya, animalia, chordata, vertebrata, mamalia, primata, hominidae,
homo sapiens
a serem competidos na terra, todavia
tendo em vista a nossa saliva
diante dos fatos apresentados
conclui-se que a piedade divina
sempre guarda, rege e ilumina
-  mas não governa -
nosso tempo, améns e espaço
santificifado é o vosso corpo
abençoado seja o nosso laço
outro Ave Maria
n'outra orgânica isomeria
outras galáxias se criam
num colapso energético.
de repente:
o senhor é convosco
ele está no meio de nós
minhas súplicas se encerram
nossos sorrisos são oniscientes,
quenteletromagnéticos
onipotentes e onipresentes.

vitrola (2016)

(https://www.youtube.com/watch?v=qFfrZx8zWbU)

se seu corpo fosse disco
queria que minha língua
fosse agulha sessentista
que em 78 rotações
transmuta físico em som
tendencia, toca, no tom
suaviza, sem arranhar,
subversiva forma de artista
mas que abre as suas costas
em todas as abstratas ações
canta que sertão vai virar mar
vir amar as suas faixas
suas vocais cordas implícitas
seu ar de tigre-de-papel
que me acha nos lençóis da casa
e lembra que eu, ser-vitrola,
sou só mais um pós-tropicalista
que sonha sempre
em te girar.

rebobinando a fita de todos os meus erros

supondo que o espaço-tempo é uma rua
volto artista, bailarino, barman e cozinheiro, se inteiro
ou simplesmente devorado, fim!, sem apelos…
mas sabendo que alcançaria todas as notas, se fosse música
acertaria todas as esquivas, se fosse luta
pescaria a lua, de novo, por aqueles olhos negros
baixando todos os santos que meu corpo aguenta
sentado no meio-fio, arrumando briga
(discutindo com os donos pagamentos e preços)
a vida é um caos e causar sempre fisga
como anzol, que depois vem dor
(sem solidez) pois ansiedade atormenta
(sem solitude) pois tristeza chega e fica
(sem sermão) pois, por favor!!!
mesas de bares não se limpam sozinhas
“tudo que é sólido se desmancha no ar”
é mentira esse tal de amor
todos nós seremos carniça
não me venha com pudor
só almejo o que mereço
essa rua nem é minha
nem a garrafa e nem os cigarros
só a consciência de raça, classes
e de que eu não posso voltar no tempo
simplesmente perdi as chaves
meu Timberland que não foi pago
meu chip Vivo sem créditos
meu corpo negro sem físico afago
fumaçante à lua como gelo em cachaça
impactante aos envolvidos como truco alto em praça
farsante tecendo agora linhas sem nexo
tentando recobrar os sentidos
o tempo todo tentando recobrar os sentidos
martelando sempre a porra dos sentidos
os sentidos são instáveis e muito eletronegativos
Laroyê, Seu Tranca Rua, ilumine os meus sentidos
que eu sinta outros infinitos
que se eu for mamãe chora
Ana Paula Slova fica sem água e comida
Armaria Lonely Boy sem saber o que é prestígio
Agronomia lá pros ricos,
o meu povo sem escora
bem por isso Bete ora,
liga, ama, cuida, chora,
Deus, brinca, ora, ri
que esteja longe essa tal hora
Amém que seja assim!
mais tranquilo, melhor sentindo,
rua, bairro, cidade, estado, país,
quase outra espécie agora
obedecendo mãe e amigos
sem malineza
cansado de chorar
cansado de (não) ser sexy
sem boemia
focado no êxito ecológico
- que infelizmente dura pouco:
em um surto positivo -
sobrevivendo à agonia.

Rumbora!

que amanhã eu caio na estrada
já escrevi uma carta de despedida pra Ana Paula
(um dia eu volto pra te buscar)
com pessimismo (eu aceito essa tara)
entendo também, assim, a complexidade do meu ar
estudei Meteorologia Aplicada
só trocaria “aos Sistemas Florestais” por “para saber voar”
chegaria rápido e seguro ao meu destino(?)
sem peleja, perrengue,
descansado menino,
mas sem histórias, com mais quilos,
sem tanto me emocionar…
pseudo-cientista, a Terceira Lei da Termodinâmica, sigo,
sendo prolixo, afirmo,
“de vez em quando penso, atrevido:
vivi mais que minhas músicas
andei mais que os meus filmes
menti mais que os meus livros (que eu disse ter lido)
fiquei doente da cabeça por minha escrita simples
enfermo do corpo por devaneios e ações tristes
moribundo,
quase senh’alma pelas palavras sem ouvintes”
um emaranhado de tecidos
alheio a tudo o que é produzido
mas provavelmente em riste
no momento crítico,
selecionando o absorvido
e concluindo o meu palpite
Alarme!
ninguém algo explica, no máximo arrisca
“o que não se torna palavra, se torna sintoma”, Freud disse
não que eu leia Freud, quem alertou foi a analista,
ser incrível, da Mata, Dra. Eliade
não que eu aceite o fragmento de uma produção
(eu, fractal que complica)
como um retalho de um vestido,
sem ver a final-obra do alfaiate
sem saber o histórico, material e os pensares
mas é isso que arrisco!
vetores com mesmo módulo e direção, em sentidos opostos
que se anulam, numa grande falsa verdade
ambos ensinam e aprendem, ganham sempre intensidade
somos uma emboleira do que ouvimos
com a prática em contraste
tudo tende, nada é,
nós mentimos sem massagem
coitado do nosso filtro
abençoada a nossa Arte
mais profundidade sempre existe
- é impossível atingir o 0 absoluto -
dizer que a natureza é perfeita é um crime
não que eu não ensinarei isso aos meus filhos
há vida nítida antes dos vultos
filha, somos tudo aquilo que lemos,
todos os lugares que andamos
o que espera é o tédio,
o que ancora é o remo,
o capitalismo dá a doença e vende o remédio:
somos certezas em agulhas
em terras povoadas por cegos
somos as mais perfeitas contradições
em busca da sobrevivência
do rompimento do estado de latência
sementes em quebra de dormência,
burlando o aparente luto
(diferente de quiescência)
sedentos pela maestria
ainda querem conhecer lugares novos, pessoas novas,
apaixonar de novo? sim, depois de tudo!
quem diria…
tocar decentemente um instrumento, dessa vez dizer mais “Ôxe!”
fazer dança ou teatro, letras ou engenharia
pegar músicas de ouvido (pau no cu do Cifra Club)
o sonho de um certo money
nunca faltar açafrão
o sonho de ser mais forte
o sonho da não-aflição
nunca mais contar com a sorte
pra isso, é óbvio, presença e calma no coração
(calma, calma, calma, calma, calma!)
de novo, sem medo, cair na estrada
23 ainda é novo,
tudo foi um grande nada
ir em busca dessas curas
ir em busca dessa alma
aceitar O Andarilho,
aceitar que nada para.

(quase brando, acendo um fogo)

assim que passamos pela cerca, Sabiá
que em terras desconhecidas,
estímulo tão incrível arRaia
não conhecidas em territórios geofísicos
e quimeras
    pela não presença anterior de toques
e sorrisos comunicatímidos
    pelo não acontecimento do encontro repetitivo
daquelas línguas
    pela absurdez do universo em separar o ar e a terra
os difundir e os agregar:
fazendo competir na sinuca, nos horários de sono, na imensidão da ansiedade
+ na falta de rotina
lábios que, juntos, são da cidade os mais bonitos
enquanto gritávamos com nossos diferentes sotaques que odiávamos nossas artes
em madrugadas intermináveis de um tempo vertiginoso
tocadas por instrumentos que dizemos não gostar
(a propósito, acho incrível quando resolve me mostrar algo novo)
como às que planejamos viagens em últimas caronas-vôos
sendo deus e deusa
brindando serenos por dividir a mesma
dimensão do espaço-tempo
por não confiarmos um no outro mas mesmo assim fecharmos os olhos
numa tentativa de achar a resposta para o grande questionamento:
“há leveza no caos?” (não)
com traços livres e tinta seca
há real acalento? (não sei)
questiono à Íris, respingo, cometa
diretamente proporcional ao tamanho dos seus cílios
que margeiam possuídas janelas negras
(avermelhadas, castanhas, de sol)
sem respostas, seguindo o princípio da incerteza
plantando uma árvore na cozinha
esquentando o amor, livrando-o da cela
seu corpo magia e sua alma de fera
menina bonita da Zona da Mata
graças a Deus, fui àquela festa
canina-felina, se pá me espreita
fácil ver a lua crescente não será
atrito estático rompido foi mais difícil
e juro, cinematicamente retilíneo uniforme, te adular
leve como cinema que nunca fomos
leve flor pluma, se existir, perfeita
avoa!
projeta
desenha em tudo que suas mãos alcançarem,
vai além!
transforma tudo que seus lábios cantarem
expressionista de todo jeito
suave? ai de quem
te cheirar e decorar
e não aproveitar o efeito
da bruxa taurina, das plantas que nascem,
cidades que só descem
cidades que nos latem
que o manco não venha,
que durma até tarde.

Bahia de São Salvador (2018)

desejo Itapuã, sorrateiro que sou
chego com o vento, armo a barraca
(morada na praia é a coisa mais amada)
faço fogueira e aqueço o frio que restou
compro 3 piriguete, faço amizade com 3 pivete
(só tem cerveja gelada e piva sangue bom nesse lugar)
lembrando com carinho de La Luna, meu antigo canivete
rimando de jeito pobre porque sou de exatas
sabendo que nem pra fazer conta eu sou expert
e pra isso tem fórmula, de mãos atadas, tabuadas
receita de bolo…
vai ver o mundo é mesmo dos espertos e eu só sou mais um tolo
apaixonado, inseguro, volátil, amador
que a nível de homem não ultrapassa o progenitor
menino artista que de arte só tem os cachos
escultura natural, inversa aos lisos fios da dor
por insistir na diferença do mesmo ardor
por que eu fujo sempre que não dou conta?
ah, é, não entendo de fórmulas
só queria dançar pagodão
ser chamado de david luiz
encher o cu de thc
(não vai ter mais rimas aqui)
porque perdi toda a métrica que restava na vida
perdi amigos, amor e família
enquanto no Pelô turistas fotografavam
eu ficando bravo mas me preenchendo de algo
(realmente, é linda essa cor)
com mais um motivo para descarrego
Bonfim, Abaeté, Elevador
BaianaSystem, Àttooxxá, qualquer tambor.
pena que a barraca foi deixada pra trás
o sistema é capitalista e o dinheiro não existe mais
(e olha que vendi minha alma, mas gastei tudo com San Marino)
o esquecimento agora será à todo vapor
pelo menos vou pegar minha chave, que com ela ficou
os zines um dia sairão da cabeça
um dia vestirei a tal da beca
terei níveis adequados de cortisol
comprar abadá de camarote
ver Baco cantar, se tiver sorte
com o coração emendado, ainda que com cerol
tatuagens que façam real sentido
sentir que não sou, pela polícia, oprimido
ter meu corpo beijado pelo sol
sem lembrar dos lábios mais lindos que tive o prazer de conhecer
- na Zona da Mata que mora tantos mistérios -
nunca mais esquecer:
gosto muito de plantas e animais
principalmente insetos
todos os seus jeitos sérios
indecisos, deletérios…
mas esse poema era sobre Salvador
não quero mais me arrastar na estrada ilusória de qualquer “reciprocidade”
eu não mereço uma morte lenta
nem viver bem, como talvez tu pensa
mereço morrer rápido!
ao contrário do que tu sabe
de loucura, carnaval e viagens
tentativas, cidades e beiras de asfalto.

nunca lavou o banheiro (poxa)

se ele usa qualquer coisa
fica fora e destapada
casa suja, fogão, pia
louça e roupa acumulada
luz acesa, outra acesa
CEMIGargalhando
o sinhôzin nunca passou
uma vassoura na casa
ei, vassoura, amigo-amigo, vassoura!
que prazer seria o meu ver os dois se amando
se ele usa o fogão
gás fica destrancado
deixa a comida (que eu fiz) queimar,
tô me queimando
tudo tá fora do lugar
grudou, caiu? me espera…
pra deixar tudo arrumado é só eu chegando
se ele usa o pente
sempre fica todo encabelado
sempre mente
se desculpa,
nunca tá errado

e esse samba se aflige por sua política
sua saliva que escorre no termo "Anarquista"
mundão é grande, nós pequeno
menor que farinha
mas tira o lixo, faça o seu
ajude a famía!
ucê tem sorte, num tem cor
pra colorir justiça
a paz é branca e não existe, igual sua empatia
ô doutora, eu tô ficando é aperreado
tô trabalhando, estudando, todo explorado

 a falha minha nisso é a passividade
é dó, é culpa, é sentimento,
é outras gratidão
mas massifico, vou me enchendo, meu material
(in)felizmente é o que acontece com todo balão

se tem uma coisa que eu não gosto,
essa coisa é a escora
é triste sua incapacidade de resolução
"eu vou trazer meu guarda-roupa", é só papo e demora
fácil mermo é deixar tud'embolad no chão

só tô falando de bagunça nessas linhas ácidas
para o dinheiro e as drogas tem que ter outra canção
(... seeee) ele faz alguma coisa é lento e mal-feito
coisa de branco, de cristão,  q'num vêi'do sertão

mas vou fechando esse lamento, concluir agora
desabafei, vou resolver!, botar tudo pra fora
na Teoria cês entendem, intelectuais de bosta
fala, falam, fala, falam
e reproduz a História.

(sempre gostei de fogos)

se meu querer destrutivo
é afunilado à queima,
por teu fogo caçador
- arqueiro de hevelius -
clamo eu, desinibido
pois, oposto complementar,
desafinado combustível
sol e quase todo ar
duplamente desaflito
à físico-química atesto:
nossos quadris em colisão
catalisarão, sem parar
para todo o universo
o mais poético calor
a mais linda combustão.

Abstinência

Escorrem, aqui, mais linhas amargas...
Cafés fortes e farras
Fôlego, por cigarros, afoito
Garras precisamente serradas
Serras de minha região amada
O grito lento de um porco

Abstinência de makonha
Abstinência da sua tara
Abstinência de sentir nada
Abstinência do seu olho

Teto preto, na cara, lona
Energia elétrica, de novo, cortada
Nunca fui bom em ser estável
Sempre tive fama de doido
De repetir as mesmas palavras
Melancólico e alcoólatra
Desculpando-se pelas rimas gastas.

Abstinência de ser fogo
Abstinência de criatividade
Abstinência de histórias
Abstinência do seu jogo

Eu, que realmente sou da roça,
Mesmo estando sempre alarde
Na fossa ou forca, quase morto,
Me esqueci de ser instantes
Me perdi pela cidade
Me perdi em suas coxas
Me-perdemos, incapazes,
Me perdi por ser farsante
Teatral de falhas artes
Eu não li, não tive forças
Preferi as nossas palavras
(Olhares, atritos, que batem)
Preferi as nossas bocas
Erros acumulam em batalhas
Ossos cansam nas andanças
Então, estruturaria a alma
Lavaria mais as louças
Lavaria a garrafa
Lavaria a minha bolsa
Sabia bioquímica, microbiologia,
de seleção natural e estatística
Pelo visto só em lousa
Misturava café que não era do dia
Misturava alimentos por simples preguiça
Sem ver que intoxicava o espírito
Cachaça, cadernos e orgias
Livros, paixões e academia
Perdi tempo apenas aprendendo
(ciente do conflito Praxis et Doctrina)
ao não antes dizer "me rendo!"
Do que adianta haicai e poesia
Desenhos e melancolia?
Só perdi dinheiro e tempo
A minha paz e a paciência
Atrás do acerto, por culpa minha
Então logo sento e penso:
Te perdi por impotência,
Não me senti um faraó
Me rebaixando, inseguro,
Me sabotando em latência
Sofrendo de abstinência

Abstinência de calma
Abstinência de ser puro
Abstinência de "que seja!"
Abstinência de presença

Em uma cruel busca (risos)
pela mente amena
Contradição que envenena
De tantas incertezas
Há uma mais plena
Hoje pensei mais:
em cigarros, morte,
vodka ou Helenas?

clorofilas sinceras demais para serem reais (2017)

por entre todos os avisos de tente novamente
(e todos os ônibus que atrasavam enquanto trabalhadores perdiam suas entrevistas de emprego)
leio a Angústia do planeta que me emprestou
tal camisa de força que me força a burlar
tal qual Graciliano, com relativo menor amor,
todos os resquícios dessa falsa esperança
todas as ondas difíceis de surfar
pela dificuldade de pseudo-marciano
(falta água e amor aqui)
de passado-imperfeito-verbo que assentou
para todo capital cultural que estamos a passar
além de Bourdieu, às estilhaças armadas,
definhando belém do próprio reflexo de anjo-negro-caído
(que não pensa em voltar)
concluindo teu velho questionamento de não ser de Vénus
ou de Vinho, ou um vaso (sei lá).
Só traga, bebe, rega calado (sendo dono),
multiplica! alados, riscam
arriscam e falam (sendo escravos)
teus limites às entre-linhas, tendendo como em cálculo
ao ônus da prova, às folhas caídas que se amaciam
pela inspiração de um pecado capital
pela autoafirmação de discos novos de música brasileira
pelo exagero da verdade e saudades dos seus pêlos
alivando nosso sabor carnaval
ansiedade e arroz com açafrão,
minha gata Ana Paula e meu Padim Ciço
pela luz absorvida e sua organelar excitação
edição dessa estória e superioridade racial
que, convenhamos, não pode ser real.