terça-feira, 23 de março de 2021

Final pro sonho do boi preto

A olaria

era bem ali no terreno
de Nivaldo. Ou no de Berto. Futuramente, compramos na mão de Berto. Depois meu pai trocou, por tijolos e telhas, com Nivaldo. São todos vizinhos, é um detalhe o ponto exato. O asfalto hoje passa do lado, em cima,
no aterro. 

~ 400 metros daqui de casa
e eu não esqueço de quando era pequeno
e toda noite era
o prazeroso sonho mesmo
n'outros dias, pesadelo
com meu pai no caminhão
des/carregando
(em fração)
quando eu sumia: uns 100 passos, sentido Cedro
e parava numa lagoa, que nascia o boi
me olhando

y eu só era alvo
y eu só era Arte
em contemplação
y eu não me sentia
não gritava, não corria
nada tinha y ele correspondia

e toda noite repetia
e todo hoje eu agradeço

às enchentes que abastecem as várzeas latossólicas,
às madeiras do carrasco, mortais intérpretes das chamas
e às mãos primatas, humanas
que fabricam tijolos
resultando em muralhas mágicas, de mana
decifráveis
escaláveis
memoriais

yo preciso traçar finais
amansar o boi preto que já é calmo
semi-estático
me montar no seu lombo e rodear
vou chamar de Flor-de-plástico
vou levar pra viajar.


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