sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Hoje tem espetáculo? Não, não, Senhor.

Os caminhos são pouco intemperizados, rochosos, sinuosos e se bifurcam logo > quando olhamos demais para o céu. logística errada: as serpentes peçonhentas espreitam a tua desatenção, os passos lentos e marcados se cansando, mordidos, miseráveis. a ação retórica de acordar todos os dias, ainda livre, ouvindo sorrisos, sentindo cheiro de bolo assando, torna-se abominável. aflito, completamente sem sentido, perdido na mata fechada, carrasco de caatinga com traços de cerrado > fases difíceis e inevitáveis, interessantes ritidomas ásperos. galhos secos me engravatam, meu corpo clama por levitação, por suspensão e asfixia (de nó apertado, de amor recíproco dado). minhas falas são aulas, minhas falas são falsas, o meu falo me mata, a futura sorte me ampara. a lei de drogas me enquadra, a anti-terrorismo me rasga, a dos homens me maltrata e a de Deus me lambe a cara. língua ácida. pH que rasteja, de meus medos se escondendo. em minhas anotações dando sumiço, feiticeira com mana alta, decidido a não ter amigos. minha vida é de sol, sal e estrada. minhas dores infecção, pelo ar; juro não tirar mais a máscara. minhas máscaras me salvam + meu brilho se apaga, e então, paradoxalmente, volto a ser fada. volto a voar pelo nada, a cantar, derrubar inimigos imaginários. não acredito em tantas brigas, gritos e farpas. quase engenheiro, não aceito essa vida. gostaria de projetar a minha, meu universo lúdico mais lúcido que essa prisão. com crianças que correm, pipas que não quebram, modernidades sólidas, com artes que me engolem. eu queria ser engolido pela Arte. não aguento mais ser engolido pelo capitalismo. eu queria ser engolido pelo mar de Aracaju, que é calmo e raso e fica fundo aos poucos. da orla gigante, lembrando de minhas roças, de minha terra marrom seca, nude, abstrata em minha mente. eu sonho com os rios se enchendo novamente. eu sonho com você, que me lê, que talvez me entende. as possibilidades são infinitas, como posições de sono, de corpo, de luta. como religiões, não como comida. por isso sinto fome. sinto fome e sede, por isso queria mais água no Norte de Minas. por isso queria ser compreendido pela minha família. mas sinceramente, agora sou só eu, adulto, largado, vestido, sensato. o vírus matou quem eu era. a pandemia matou todos que eu conhecia. agora somos outros, piores, melhores y no meu caso não importa. eu só queria conseguir olhar para o chão e para o céu ao mesmo tempo, camaleão. me adaptar e não esquecer do êxito ecológico, do fitness, da capacidade de reprodução. um animal moribundo e sem perspectiva se torna energia para outros. eu quero cumprir esse papel. eu queria ser de papel, de celulose, de árvore. ser um pequizeiro ou um urubu, na verdade. mas repito, gostaria de ser feito de arte. arte é passageira, também. eu queria ser mais passageiro, mas tudo que tenho agora é meu corpo doente e meu pensar agoniado, na-boca-dos-outros algemado, vagabundo, preso. falso afim.

Mas pra todos os efeitos sociais, econômicos e ambientais, eu tô ótimo. 

Fungo, finjo, e um dia consigo fugir.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Saruê (Didelphis aurita)

22:00 horas.
Última noite de lua crescente, amanhã estará completamente cheia. Sua luz  me clareia + meu maratá encontrando seu fim, labareda. O café esparramado no cimento, em 3 círculos de 1 metro e 0,5, de diâmetro, abertos, secando.  Da varanda da casa nova eu vejo uma das formações do Espinhaço, serrana, no ponto de corte norte-mineiro > Santo Antônio do Retiro. Meu nariz apontado para a Pedra Grande (dos Tapuias), onde existem artes rupestres seculares, aqui onde meu povo inflou seu sangue, onde a comunicação social + aperfeiçoamento natural + polegar opositor resultou em prosperidade, se hoje, aqui, eu digito.
Galinhas gritam e correm, ex-apoleiradas...
Ligo a luz do poste 
do quintal, corro para a casa velha, onde meu pai assiste telenovela. Faço de arma a lanterna, desviando dos varal, grito 
"É saruê!" 
Se levanta, 
"Desgraçado! De novo!"
Vem ver, vejo uma galinha preta sozinha, lembro de uma assim mas com pintim, dormindo do lado da velha casa, corro pra verificar e ela tá lá, com suas crias, sossegada. 
A preta outra, sozinha, nitidamente atacada, continua louca pelo terreiro. Tranquilo, digo que 
"A que tinha pintinho do lado da casa tá salva."
Entramos no poleiro, feixes luminosos nas árvores. 
Uma contextualização patriarcal: 
"...Porque saruê, quando vê que a luz ligou, trepa na primeira gáinha que vê e vai lá pro ôin. Você ligou o poste, né." 
"...Quando a lanterna bate n'el', el' óia com os oião bem na luz... às vez tá cheio de fióte na bolsa, eles vai saindo e descendo de um em um. E pau." 
{Amoreira, Araticunzeiro, pés-de-andu, Mangueiras, Cajueiro, Umbuzeiro, bananeiras. Procuramos em tudo, pescoço doeu. Nada. Pai reclama...} 
"Essa outra preta também tinha, tinha 2. Ante-ontem tinha 10 mas de lá pra cá foi os 10 embora. Desgraçado. Ontem foi 3. Ontem ela tava assim, aqui perto do pé-de-caju, um só que acompanhou ela, um ficou preso no arame lá nas erva-cidreira e eu tirei e trouxe pra cá. Mas agora acabou." 
- Enquanto não parou de iluminar as copas repletas de galinhas, que dormem, cheias de sorte. 
{Como se eu não lembrasse, das lenhadas, derrubadas com enxada, subindo no pé-de-goiaba, se preciso fosse. Foice, nele aqui embaixo.
E quando era cobra? Mamãe matava de paulada. Papai tem medo de cobra.
Cachorro se escutava a passada. Canídeos safados, comedores de ovos.}
Eu interfiro
"Nós nunca comeu os que mata aqui, né? Só quando os outro faz. Por quê?"
"Dá muito trábái limpar. Eu não sei não. Sua mãe odeia o cheiro." 
- me responde.
"Ó" - procede - "Vamo deitar que daqui 30 minutos ele ataca de novo porque só comeu 2 pinto. Vou nem acender a luz do poste, vou vim só com a lanterna."
"Tá bom, o senhor me grita."
"Viu."
Vou lá pra cima.
E da varanda da casa nova, do lado do café secando, espaiádo, meu chinelo do jeito certo, virado pra riba, babosa, comigo-ninguém-pode, dama-da-noite, de frente pra horta, que antecede a Serra do Espinhaço, às 23:00 horas finalizo este relato. 
Ele permaneceu alumiando  os topos das árvores por uns 20 minutos, andando por toda a roça, enquanto eu escrevia isso.
O saruê atacou as galinhas do outro lado da pista.
Cachorros latem. Malditos canídeos que se fazem de bons moços.

Acordem, vizinhos.

sábado, 2 de maio de 2020

o que é lar, o que é festa?

cê tá com quantos anos, minha fia? 12, né?!
- é
daqui a 3 anos se deus abençoar pra vovô ter um dinheiro, tiver juntado um dinheiro,
vovô vai fazer uma festa bem bonita de aniversário de 15 anos pra você, viu?!
pra você chamar suas amiguinhas, todas
pra você ficar num vestido beeem bonito, viu?!
se deus abençoar e vovô arrumar um emprego...
uma fest, né, que fala?
- rs, é!
pois é, uma festona de 15 anos, pra você ficar parecendo uma princesa, viu?!
- viu...
você merece! você é tão boa, você é uma menina que merece muito
é o meu sonho, o meu maior sonho, poder fazer isso pra você.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Cigarra (Carineta fasciculata)

{canta, cigarra, canta!}
embala minha altivez
animalesca

{vish, é sinal de sol!}
dizia mamãe, em sua própria emoção,
mas quase minh'a mesma.

quando eu mirava alto, nada atônito, depois da sonora convocação,
a copa das Ingazeiras, Amoreiras, Anacardiaceaes e pés-de-jambo,
não percebia o estado de graça, a comunhão do cume que me devorava
sob aprovação régia, beneplácita, a devolução hemiptera do inédito
saborosa nublada competidora ação: as asas de um lado, membranosas,
órgãos reprodutores, picador sugador, gânglios inclinados aos debandos
+ de outro lado > a curiosidade do suposto domínio, em tempo geológico,
inocente em extermínio, silenciador de arma industrial, feito gambiarra
pela brincadeira de barbantes presos às partículas centrífugas,
às tuas fugas
eu, inseticida
vós que voam
sempre aflitas

então

amenizaremos 
com uma possível tentativa de frear 
a ensolação {?}
prefiro a morte
a maternal - patriarcal sorte
confiar cegamente em meu próximo
enfrentar o Cedro cheio apenas com meu corpo.

justifiquemos 
que a evolução orgânica é sutil raque alada de ingas
fruto leve deiscente que se abre, natural > contra a beata sensatez
pois a carne e o choro e o sangue e os insetos e as árvores e os bichos
e o suor e o gozo, matas flamejantes são resultados de variáveis cógnitas
de um consciente coletivo que fere todas as feras julgadas inóspitas
a partir de seu misticismo de fada, de suas cores avantajadas, + seus
falos e casas e carros e vínculos empregatícios e roupas e raças

não esqueçamos
somos programadores
e o código compilará com as mudanças
upgrades-sem-vergonhas, como plantas
daninhas aos seus castelos de finanças
cortadores das linhas, libertem minhas
crianças.

{voa, cigarra, canta!}

quarta-feira, 18 de março de 2020

Enredo

Miunhas rasgam as carnes das minhas caras
em função quadrática dos encaixes calouros
code caixas inversas determinantes de nada
nos olhares feiticeiros dominantes dos corvos
das damas vituperiosas por nuestras atitudes
suas bocas em minhas chamas
minhas chamas em seus pêlos
em seus consentimentos, trivialmente, findos
perdoai os nossos pecados, a nossa vontade
poison palavras escolhidas em'ordem errada
estético + nervoso > à molde patriarcal
desonestidade vã numa cova anaeróbia
assumindo-se, assim, pragmáticovarde.

Mas nem tudo acinza, Phoenix dactylifera
exceções ∃ de solar > colheitas desérticas
não fará necessário o especifismo, alívio!
Mauritia vinifera - A fera autonominada -
produzida automática em beiras de poços
não perenes - que um dia foram -
∉,     conjunto alheio aos filos
dificultada pelo epistemológico genocídio
transfers orgânicas de povos, anti-lépidas
buritis convertidos, fantoches que choram
modernista, anti-paixão, felídeo leal
fortes raízes assoreadas fasciculares,

intrincadas + simples, em verdade.

sábado, 29 de fevereiro de 2020

carnaval tamareira (Phoenix dactylifera)

infelizmente não cansey de ser máquina movida a álcool, a sujo diesel
esperando a mulher acordar, uma roleta russa de lágrima ou sorriso,
um dispositivo
que bebe até se esgotar, não renovável
que brinca o carnaval mais quente da Serra do Espinhaço
que ri e se engasga no mosh + pula, dança e salva, seiva, que cai
a consciência
+ cobra
a naturalidade
autocobra
+ serpenteia
automotivo
armaria
aflorescido
e ama em latência, e tudo sobra
exagerado, expansivo demais
constrangedor/tangente
constrangido
vivo-sempre
jurando que esse é o texto derradeiro
não gosto de mais nada que escrevo
por causa do tanto meusado de artigo
por causa do impreterível limitado loop infinito +
essa vontade de gritar
por causa do norteiro sol na cabeça que nos faz falar
+ suar as toxinas
> pela falta de aparelho celular e
pela minha necessidade de estudo literário
{sou apenas um palhaço}
e máquina incandescente
neurocoleoptera construída com giz:
meu aparelho celular é de papel + celulose
de tinta, colorpunk, instrumental, de carvão
de consulta que preciso marcar (urgentemente!)
(para parar de esperar! ansioso + aflito)
O Aparelho que bebe

O Andarilho, paiaço, desfocado, performático > olha ao seu redor, porra! não se faça de besta; cê é besta, seu ingênuo - que segundo Cioran é apenas uma das formas da burrice - segura a risada e seus perdões; cê é doido ou quer 1 real??? seu pidão! é o caralho, clown, mergulhe a crown e experimente a densidade, derreta-a e compre drogas, 4.700 substâncias tóxicas, corote + uma paixão...

até não ser mais nada!

que treme, escala richter
que geme, placa tectônica
sísmico, sínico, onda, indeciso,
urbanístico
mais demorado a estar pronto
uma catástrofe, um infortúnio:
o sono além do ponto,
o descontrole, astuto, de novo;
uma quentura, um passivo desacordo:
a preocupação de não ser demagogo,
mirante de encaixe social em prosa e conto;
viajero pela sombra
> a sombra é a verdade
a cinza e a sombra;
> a cinza é o resquício
da maioria dos inflamáveis,
dos materiais incinerados,
[o objetivo das máquinas movidas a álcool]
depois das quartas mediterrâneas de queixo furado
que eu queria ouvir tudo + acho bonito
que é misterioso, feito filha única
mesopotâmica
e quem planta tâmaras não colhe tâmaras
e ninguém colherá prata
plantae de prata não existe
a sociabilidade generalista não existe
enquanto organismo
enquanto cigana selvática
filosofia absurda
exacerbada,
sim
e minhas letras manuscritas à comprova
e por isso, autônomo, encerro aqui
e juro conquanto não mais escrever
+ me alojar apenas em albergues baratos, se este júbilo continuar a ser opção única
se o medo e incômodo crescerem, infecciosa colônia fúngica
ninguém merece essa garrafa térmica
prestes a explodir
ninguém merecia o progresso pautado unicamente sob a era da máquina
que foi inevitável e possui a todos os sapiens
(eu não queria ser sapiens)
mas não sou fragmento de lanterna falsificada
nem mata primária
> só tenho rimas gastas
e repito:
me orgulho e me rasgo em meus gritos ásperos
remato pelas raízes pré-digeridas pela microbiota
mortas
depois das cinzas de quarta.

domingo, 12 de janeiro de 2020

água escura de mata ciliar

fumei no colo de oxum e mergulhei em seu ventre
turvo de muita água luciferina + corrente
pensei em consequências minerais de rochas exóticas
inseridas na curva do leito
para a flora, microfauna e história
vendo a água dobrar ao longe sob a mata fechada para-raios solares
só com os olhos de fora
entendi porque todos os mais velhos viram o cabôquin d'água
e nós não
que quase viramos piabas
do córgo santo
das águas barrosas e areiadas, dos barrancos
que ninguém mais viu, pulou
pela diversidade morfológica
eu não preciso ser ator
minha morte é escura, ferrão de bagre, cascuda
me espera no passado, em águas misteriosas
morada de cobras perigosas
chão movediço coberto de folha e flor.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

consonância

pra roça De à Pé e De Noite
ouve-se além da sincronia obscura
da falta barítona de lua
+ anfíbios contraltos do brejo
(do rio a uns 200 metros)
mesclada com incógnitos insetos
são arcanjos os tenores sinfônicos
é solvente universal o alísio mezzo
s o p r a n o
+ aguda a cláusula que espero
espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas se aglomeram
me assessoram, serenas
beiradas ou imersas, sereias,
o ritual da complacência:
a Luma germinará no fim do trajeto; (e assim foi)
visualizo e transbordo a recente cheia do Cedro
transpassando a várzea pré-alagada
ulteriormente, à porteira da muralha; (de silêncio, prateada)
desobedeço civicamente aos meus egos
seus corais são quase secos.

não obstante, me assistiu a sinfonia,
a colheita será úmida e farta.


domingo, 5 de janeiro de 2020

impudico pranto

pois nenhum resultado encontrado para pecamínio
continuo insistindo no neologismo
de novas espécies identificadas nas profundezas do oceano de minhas vísceras
também menos exploradas que a superfície lunar
perdendo apenas para as vielas
instantaneamente descobertas,
em epifanias
em momento linear
+ o impulso de uma força
- modulares -

a vida subaquática interior também tem pressão alta
(fobia social + taquicardia
lembranças densas, escuras, ignotas)
bêbada pelas madrugadas equatoriais, mas secas,
longíssimas das praias, voando pelas ruas
sempre driblando a polícia e gritando morra!
morra!
Judas Iscariotes!
m...
enxergando no horizonte,
aproximando-se em rota de colisão
com a represa
fatídica:

. onde mora?
. eu? gêmeos, brigado, é linda sua bota
- acabei de escrever, olha
. amei, vai ser música famosa
. eu? palhaço e contador de prosa
. só tô chorando pela fome
. não a minha, a de todas as mulheres e homens, mas eu quero sim uma mordida
- faz aí uma coisa engraçada
. custa uma dose de pinga.

estruturadas
são as falas da ressaca
que aumenta pela lua cheia
deixando mais profunda a possibilidade de superação
(mais misteriosas, todas as que vem e vão)
mais frágeis, suscetíveis ao rompimento, os muros que seguram as chuvas
mais escassa
a artística
+ calculista
inspiração

cansei desse modelo ultrapassado de ambiental conservação
não quero mais ser mata primária
quero ser fragmento de lanterna falsificada
ou então submarina espécie desconhecida
descobrir o meu talento ecológico balanceado  predador
sem olhos e com uma luz na testa que acende e apaga
morrendo depois pela evolutiva escala

Deus, eu rejeito o dom da vida
em qualquer banheiro de boteco
jorrando sem papel higiênico,
com passagens e boletos
usando um balde pra descarga;
o dom afunda, lento, bosta, vivo
mais uma vez eu peco e molho a cara
de outra moça chique de bota marrom escuro rejeito carinho
seu mesmo amor ainda me rasga
até um dia que viro dado oceanográfico
nadando abaixo do solo marinho.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

persistência

o sono inalcançável
que me levita
é fisicamente implacável + desconectado
os sonhos que me assustam vêm montados à cavalo, com flecha e arco
o ar que te supera é a mesma combinação que os nossos organismos estão adaptados
mas insiste em dissipar quase que o tempo todo
eu não aguento mais o seu timbre rouco
e suas lagartas venenosas sorrindo neuroquímicas
eu não suporto tudo que eu queria,
sem precisar me ausentar,
se desmontar por causa do cansaço dos meus braços
que não abraçaram o mundo
não foram objetos da arte dos palhaços
taparam olhos, boca, ouvidos e narinas
e agora me acordam por pouco
antes que eu mergulhe nova-completamente em seu poço
da tua indecisão e dos meus maus bocados
equinócio simulado
confortável e corrosivo
o meu coração jurado.

progresso

sussurros dos estiletes fabricados no fogão à gás + um tubo de caneta + um apontador de lápis,
quebrado, junto com meu lado ruim > ao pé de meu ouvido como ventos esporádicos
de uma região densa, no carona de um caminhão
público, municipal,
sujo, estatal
com orgulho!
de dois lustrosos sorrisos observando pelas janelas fulgurantes do cyberpunk
o pós-modernismo obscuro, a inteligência artificial
se desdobrando culta às árvores de ritidoma áspero
do relativista carrasco
e distópico
onde a luta pela vida é ainda mais incessante, escancarada
- a humanidade cada vez mais ama as máquinas -
a terra desistente absoluta, a crença morta e robótica de um sistema amórfico
pois esse foi o curso historiográfico das páginas
a destruição total da personificação
o selvagismo implícito dos trânsitos caóticos

quando os jovens negros, alvos, caminhavam de tarde pelos matos e de noite pelas rodovias e treinando suas vozes e seus boxings e seus saltos e as suas mortes
desfilando suas ideias em seus tornozelos à mostra de cobras coral
iluminadas nos últimos segundos pelo celta farol
enamoradas, juntas, do lado da moita de capim
memórias distintas despertadas de um mesmo festim
evidenciando a mudança comportamental:

não acredito mais que tudo seja mentira!
pela evolução, guerras
e línguas
pelo conflito continental
que envolve camadas cebológicas, a marcha cega ao progresso e pela perfeição metálica
o aprimoramento de pontes em dimensões drásticas

que matam o minino pescador, banhadô, lavadô, panhadô de areia, animal
o rio cedro parado, escuro e fundo,
- que sempre foi raso e rápido, cortante, apedrejado, amarelo claro -
bombeado o tempo todo, cimentado
secando
que ninguém vê
assim como o Russão e o São Joaquim e o Das Pidrinha e o Mandassaia

> e eu não acredito mais em você
que sempre me manipulou
e eu volto a te amar e me odeio por isso
volto a amar as máquinas líquidas + pseudo laicas
volto a (te) observar, tudo numa luneta árida

que me embriagou e acabou com meus sentidos
me amarrou e matou de fome e sede
cachorro bravo na corda do fundo do terreiro + arteiro, banzeiro
perigando a corda quebrá e só fazer o costumeiro
vançar no menino triste porque não tem mais peixe nem sombra nem aroeira nem ingazeira
nem córgo e nem lito

acabou tudo...

só fica a vontade de ir embora dessa carne
ela não vai
as máquinas potencializam sua ação, distribuição e arbítrio
as megalópoles cinzas de fumaça e claras de tantas placas
leds, vôos, luzes,
bobos, performando:

luzes de cidade da perspectiva mais recente de criação são feixes de longe, de Rio Pardo, por fascínio,
Espinosa, Monte Azul, Mato Verde,
vendo daqui do Retiro
enquanto luzes de cidades dos primeiros cyborgs
com todos os códigos programáticos de realidades e poder
são só anúncios capitalistas de seus próprios existenciais sentidos.

o orgulho sangra e somos só bicho
em 2020 podemos ser

criança imaculada e mentirosa > fruto da construção do mundo novo do imperialismo

eu não acredito mais em você.