domingo, 12 de janeiro de 2020

água escura de mata ciliar

fumei no colo de oxum e mergulhei em seu ventre
turvo de muita água luciferina + corrente
pensei em consequências minerais de rochas exóticas
inseridas na curva do leito
para a flora, microfauna e história
vendo a água dobrar ao longe sob a mata fechada para-raios solares
só com os olhos de fora
entendi porque todos os mais velhos viram o cabôquin d'água
e nós não
que quase viramos piabas
do córgo santo
das águas barrosas e areiadas, dos barrancos
que ninguém mais viu, pulou
pela diversidade morfológica
eu não preciso ser ator
minha morte é escura, ferrão de bagre, cascuda
me espera no passado, em águas misteriosas
morada de cobras perigosas
chão movediço coberto de folha e flor.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

consonância

pra roça De à Pé e De Noite
ouve-se além da sincronia obscura
da falta barítona de lua
+ anfíbios contraltos do brejo
(do rio a uns 200 metros)
mesclada com incógnitos insetos
são arcanjos os tenores sinfônicos
é solvente universal o alísio mezzo
s o p r a n o
+ aguda a cláusula que espero
espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas se aglomeram
me assessoram, serenas
beiradas ou imersas, sereias,
o ritual da complacência:
a Luma germinará no fim do trajeto; (e assim foi)
visualizo e transbordo a recente cheia do Cedro
transpassando a várzea pré-alagada
ulteriormente, à porteira da muralha; (de silêncio, prateada)
desobedeço civicamente aos meus egos
seus corais são quase secos.

não obstante, me assistiu a sinfonia,
a colheita será úmida e farta.


domingo, 5 de janeiro de 2020

impudico pranto

pois nenhum resultado encontrado para pecamínio
continuo insistindo no neologismo
de novas espécies identificadas nas profundezas do oceano de minhas vísceras
também menos exploradas que a superfície lunar
perdendo apenas para as vielas
instantaneamente descobertas,
em epifanias
em momento linear
+ o impulso de uma força
- modulares -

a vida subaquática interior também tem pressão alta
(fobia social + taquicardia
lembranças densas, escuras, ignotas)
bêbada pelas madrugadas equatoriais, mas secas,
longíssimas das praias, voando pelas ruas
sempre driblando a polícia e gritando morra!
morra!
Judas Iscariotes!
m...
enxergando no horizonte,
aproximando-se em rota de colisão
com a represa
fatídica:

. onde mora?
. eu? gêmeos, brigado, é linda sua bota
- acabei de escrever, olha
. amei, vai ser música famosa
. eu? palhaço e contador de prosa
. só tô chorando pela fome
. não a minha, a de todas as mulheres e homens, mas eu quero sim uma mordida
- faz aí uma coisa engraçada
. custa uma dose de pinga.

estruturadas
são as falas da ressaca
que aumenta pela lua cheia
deixando mais profunda a possibilidade de superação
(mais misteriosas, todas as que vem e vão)
mais frágeis, suscetíveis ao rompimento, os muros que seguram as chuvas
mais escassa
a artística
+ calculista
inspiração

cansei desse modelo ultrapassado de ambiental conservação
não quero mais ser mata primária
quero ser fragmento de lanterna falsificada
ou então submarina espécie desconhecida
descobrir o meu talento ecológico balanceado  predador
sem olhos e com uma luz na testa que acende e apaga
morrendo depois pela evolutiva escala

Deus, eu rejeito o dom da vida
em qualquer banheiro de boteco
jorrando sem papel higiênico,
com passagens e boletos
usando um balde pra descarga;
o dom afunda, lento, bosta, vivo
mais uma vez eu peco e molho a cara
de outra moça chique de bota marrom escuro rejeito carinho
seu mesmo amor ainda me rasga
até um dia que viro dado oceanográfico
nadando abaixo do solo marinho.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

persistência

o sono inalcançável
que me levita
é fisicamente implacável + desconectado
os sonhos que me assustam vêm montados à cavalo, com flecha e arco
o ar que te supera é a mesma combinação que os nossos organismos estão adaptados
mas insiste em dissipar quase que o tempo todo
eu não aguento mais o seu timbre rouco
e suas lagartas venenosas sorrindo neuroquímicas
eu não suporto tudo que eu queria,
sem precisar me ausentar,
se desmontar por causa do cansaço dos meus braços
que não abraçaram o mundo
não foram objetos da arte dos palhaços
taparam olhos, boca, ouvidos e narinas
e agora me acordam por pouco
antes que eu mergulhe nova-completamente em seu poço
da tua indecisão e dos meus maus bocados
equinócio simulado
confortável e corrosivo
o meu coração jurado.

progresso

sussurros dos estiletes fabricados no fogão à gás + um tubo de caneta + um apontador de lápis,
quebrado, junto com meu lado ruim > ao pé de meu ouvido como ventos esporádicos
de uma região densa, no carona de um caminhão
público, municipal,
sujo, estatal
com orgulho!
de dois lustrosos sorrisos observando pelas janelas fulgurantes do cyberpunk
o pós-modernismo obscuro, a inteligência artificial
se desdobrando culta às árvores de ritidoma áspero
do relativista carrasco
e distópico
onde a luta pela vida é ainda mais incessante, escancarada
- a humanidade cada vez mais ama as máquinas -
a terra desistente absoluta, a crença morta e robótica de um sistema amórfico
pois esse foi o curso historiográfico das páginas
a destruição total da personificação
o selvagismo implícito dos trânsitos caóticos

quando os jovens negros, alvos, caminhavam de tarde pelos matos e de noite pelas rodovias e treinando suas vozes e seus boxings e seus saltos e as suas mortes
desfilando suas ideias em seus tornozelos à mostra de cobras coral
iluminadas nos últimos segundos pelo celta farol
enamoradas, juntas, do lado da moita de capim
memórias distintas despertadas de um mesmo festim
evidenciando a mudança comportamental:

não acredito mais que tudo seja mentira!
pela evolução, guerras
e línguas
pelo conflito continental
que envolve camadas cebológicas, a marcha cega ao progresso e pela perfeição metálica
o aprimoramento de pontes em dimensões drásticas

que matam o minino pescador, banhadô, lavadô, panhadô de areia, animal
o rio cedro parado, escuro e fundo,
- que sempre foi raso e rápido, cortante, apedrejado, amarelo claro -
bombeado o tempo todo, cimentado
secando
que ninguém vê
assim como o Russão e o São Joaquim e o Das Pidrinha e o Mandassaia

> e eu não acredito mais em você
que sempre me manipulou
e eu volto a te amar e me odeio por isso
volto a amar as máquinas líquidas + pseudo laicas
volto a (te) observar, tudo numa luneta árida

que me embriagou e acabou com meus sentidos
me amarrou e matou de fome e sede
cachorro bravo na corda do fundo do terreiro + arteiro, banzeiro
perigando a corda quebrá e só fazer o costumeiro
vançar no menino triste porque não tem mais peixe nem sombra nem aroeira nem ingazeira
nem córgo e nem lito

acabou tudo...

só fica a vontade de ir embora dessa carne
ela não vai
as máquinas potencializam sua ação, distribuição e arbítrio
as megalópoles cinzas de fumaça e claras de tantas placas
leds, vôos, luzes,
bobos, performando:

luzes de cidade da perspectiva mais recente de criação são feixes de longe, de Rio Pardo, por fascínio,
Espinosa, Monte Azul, Mato Verde,
vendo daqui do Retiro
enquanto luzes de cidades dos primeiros cyborgs
com todos os códigos programáticos de realidades e poder
são só anúncios capitalistas de seus próprios existenciais sentidos.

o orgulho sangra e somos só bicho
em 2020 podemos ser

criança imaculada e mentirosa > fruto da construção do mundo novo do imperialismo

eu não acredito mais em você.