Hj eu não vou dormir antes de registrar,
por pressão,
alguns vírus que atravessam meu sistema neurológico
todos os cabelos encravados que eu não consigo tirar y só pioro a situação
todos os sorrisos sarcásticos que, navalhas obsidianas, de rochas vulcânicas, cortam minhas pontas louras e às jogam ao mar.
Sabe, eu sou obrigado a registrar
que a minha família é isenta
que eu queria ter terminado a graduação
que eu queria um gol quadrado
branco ou azul claro
que combinasse com minha camisa social favorita
que preenchesse o vão de algumas linhas
y me levasse às quedas escondidas do meu Norte do Norte de Minas.
Meramente obrigado!
y apresento-lhes o paradoxo da ingratidão
pois nas madrugadas Insectas eu sou passarinho
pois nos dias endotérmicos eu me flagro Reptilia.
Y se Deus me desse filhas
y o acolhimento de um povo indígena
y a oportunidade de uma carreira científica
y uma pequena vazão da ideação suicida
eu seria, sim, perpétua pipa
perene plantação de laranja, duradouro toca-fita
sem dor de dente, cabeça ou ouvido
sem mal-me-quero e dor-de-vida
cirurgia botânica divina:
eu seria sempre-viva.