terça-feira, 23 de março de 2021

"Hoje não"

Hj eu não vou dormir antes de registrar, 

por pressão, 

alguns vírus que atravessam meu sistema neurológico

todos os cabelos encravados que eu não consigo tirar y só pioro a situação

todos os sorrisos sarcásticos que, navalhas obsidianas, de rochas vulcânicas, cortam minhas pontas louras e às jogam ao mar.


Sabe, eu sou obrigado a registrar

que a minha família é isenta

que eu queria ter terminado a graduação

que eu queria um gol quadrado

branco ou azul claro

que combinasse com minha camisa social favorita

que preenchesse o vão de algumas linhas

y me levasse às quedas escondidas do meu Norte do Norte de Minas.


Meramente obrigado!

y apresento-lhes o paradoxo da ingratidão 

pois nas madrugadas Insectas eu sou passarinho

pois nos dias endotérmicos eu me flagro Reptilia.


Y se Deus me desse filhas

y o acolhimento de um povo indígena 

y a oportunidade de uma carreira científica

y uma pequena vazão da ideação suicida 

eu seria, sim, perpétua pipa

perene plantação de laranja, duradouro toca-fita

sem dor de dente, cabeça ou ouvido

sem mal-me-quero e dor-de-vida

cirurgia botânica divina:

eu seria sempre-viva.

Cabelo cor-de-fogo

Eu fiquei apaixonado
No seu cabelo vermelho alaranjado
Cor-de-fogo
Que cê fica brava quando o tom dá errado
Pela sua boca
De sorriso roxo
Pelo olhar oceânico
Em placa tectônica submarítima
Y vontade de virar animal
Porque bom mesmo é morrer bicho
Irracional
Porque bom mesmo é morrer planta
Fotossintetizando
Convertendo a luz
Em beira d'água preservada
Reprogramando
Em binário
Fractais de estrelas, de quasares
Menina marguerita
Eu tronco, na fila
Cê brasa, seu Filo:
Te quiero,    Sofia.

Final pro sonho do boi preto

A olaria

era bem ali no terreno
de Nivaldo. Ou no de Berto. Futuramente, compramos na mão de Berto. Depois meu pai trocou, por tijolos e telhas, com Nivaldo. São todos vizinhos, é um detalhe o ponto exato. O asfalto hoje passa do lado, em cima,
no aterro. 

~ 400 metros daqui de casa
e eu não esqueço de quando era pequeno
e toda noite era
o prazeroso sonho mesmo
n'outros dias, pesadelo
com meu pai no caminhão
des/carregando
(em fração)
quando eu sumia: uns 100 passos, sentido Cedro
e parava numa lagoa, que nascia o boi
me olhando

y eu só era alvo
y eu só era Arte
em contemplação
y eu não me sentia
não gritava, não corria
nada tinha y ele correspondia

e toda noite repetia
e todo hoje eu agradeço

às enchentes que abastecem as várzeas latossólicas,
às madeiras do carrasco, mortais intérpretes das chamas
e às mãos primatas, humanas
que fabricam tijolos
resultando em muralhas mágicas, de mana
decifráveis
escaláveis
memoriais

yo preciso traçar finais
amansar o boi preto que já é calmo
semi-estático
me montar no seu lombo e rodear
vou chamar de Flor-de-plástico
vou levar pra viajar.


A problemática das almas penadas consumidoras de oxigênio e emissoras de gases poluentes

hasta la luna > as ondas acalmarem, enquanto o sol não nos engolir

> y eu aind'andando pelas ruas escuras  de mim

sigo frequentemente pensando 

o que fazer pra fazer pra ganhar dinheiro

+ o que fazer pra esquecer você

{ lembrando das duas coisas, travo

desconto nos cigarros

escondo nos seu muros, ris'os meus olhos calados,

deitando pelas praças

te ouvindo em todos bares

aceso como nunca

não sinto que tudo passa }