Os caminhos são pouco intemperizados, rochosos, sinuosos e se bifurcam logo > quando olhamos demais para o céu. logística errada: as serpentes peçonhentas espreitam a tua desatenção, os passos lentos e marcados se cansando, mordidos, miseráveis. a ação retórica de acordar todos os dias, ainda livre, ouvindo sorrisos, sentindo cheiro de bolo assando, torna-se abominável. aflito, completamente sem sentido, perdido na mata fechada, carrasco de caatinga com traços de cerrado > fases difíceis e inevitáveis, interessantes ritidomas ásperos. galhos secos me engravatam, meu corpo clama por levitação, por suspensão e asfixia (de nó apertado, de amor recíproco dado). minhas falas são aulas, minhas falas são falsas, o meu falo me mata, a futura sorte me ampara. a lei de drogas me enquadra, a anti-terrorismo me rasga, a dos homens me maltrata e a de Deus me lambe a cara. língua ácida. pH que rasteja, de meus medos se escondendo. em minhas anotações dando sumiço, feiticeira com mana alta, decidido a não ter amigos. minha vida é de sol, sal e estrada. minhas dores infecção, pelo ar; juro não tirar mais a máscara. minhas máscaras me salvam + meu brilho se apaga, e então, paradoxalmente, volto a ser fada. volto a voar pelo nada, a cantar, derrubar inimigos imaginários. não acredito em tantas brigas, gritos e farpas. quase engenheiro, não aceito essa vida. gostaria de projetar a minha, meu universo lúdico mais lúcido que essa prisão. com crianças que correm, pipas que não quebram, modernidades sólidas, com artes que me engolem. eu queria ser engolido pela Arte. não aguento mais ser engolido pelo capitalismo. eu queria ser engolido pelo mar de Aracaju, que é calmo e raso e fica fundo aos poucos. da orla gigante, lembrando de minhas roças, de minha terra marrom seca, nude, abstrata em minha mente. eu sonho com os rios se enchendo novamente. eu sonho com você, que me lê, que talvez me entende. as possibilidades são infinitas, como posições de sono, de corpo, de luta. como religiões, não como comida. por isso sinto fome. sinto fome e sede, por isso queria mais água no Norte de Minas. por isso queria ser compreendido pela minha família. mas sinceramente, agora sou só eu, adulto, largado, vestido, sensato. o vírus matou quem eu era. a pandemia matou todos que eu conhecia. agora somos outros, piores, melhores y no meu caso não importa. eu só queria conseguir olhar para o chão e para o céu ao mesmo tempo, camaleão. me adaptar e não esquecer do êxito ecológico, do fitness, da capacidade de reprodução. um animal moribundo e sem perspectiva se torna energia para outros. eu quero cumprir esse papel. eu queria ser de papel, de celulose, de árvore. ser um pequizeiro ou um urubu, na verdade. mas repito, gostaria de ser feito de arte. arte é passageira, também. eu queria ser mais passageiro, mas tudo que tenho agora é meu corpo doente e meu pensar agoniado, na-boca-dos-outros algemado, vagabundo, preso. falso afim.
Mas pra todos os efeitos sociais, econômicos e ambientais, eu tô ótimo.
Fungo, finjo, e um dia consigo fugir.